Título: O fantasma da incerteza
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 07/08/2010, Cidades, p. 30

Em meio a dúvida se permanece até o fim da disputa, o ex-governador Joaquim Roriz reforça em seus discursos que vai até o fim da briga e que não existe plano B. A estratégia é para não desmobilizar os aliados e também não afetar o caixa da campanha

Na corrida eleitoral, a grande inimiga do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) é a incerteza sobre a permanência dele na disputa de outubro. Preocupado com uma eventual desmobilização de aliados, o grupo rorizista traçou como estratégia fundamental a repetição do discurso de que a decisão judicial da última quarta-feira não se aplica imediatamente. Mesmo com o registro negado pelo voto de quatro entre os sete juízes do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), Roriz está liberado para assumir compromissos de governo, fazer comícios e participar da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, que começa no próximo dia 17. Há, no entanto, um receio de que a dúvida quanto à viabilidade jurídica da candidatura de Roriz provoque impacto na arrecadação de recursos para custear os eventos e materiais da campanha, além de provocar desânimo em cabos eleitorais e integrantes dos partidos da coligação Esperança Renovada.

Por isso, Roriz tem feito sempre o mesmo discurso de que vai até o fim na briga para se reeleger governador e de que não existe plano B. Não adianta votarem contra mim, pois é o povo que vai escolher e não quatro homens dentro de um tribunal. Quem decide é a maioria e isso é democracia, afirmou ex-governador em discurso na Vila Areal, em Taguatinga Sul, onde criticou a decisão do TRE-DF logo depois de saber do resultado do julgamento. Na manhã de ontem, durante caminhada na Feira dos Goianos, em Taguatinga, ele manteve o tom: Só não serei governador se as urnas não quiserem. Vou até o fim, disputarei a eleição.

A tática inclui ainda mostrar que a decisão do TRE-DF não reflete um pensamento uniforme na Justiça. Roriz teve o registro negado em resposta a uma ação de impugnação protocolada pelo procurador regional eleitoral do DF, Renato Brill de Góes, com base na Lei da Ficha Limpa, que torna inelegíveis políticos com suspeita de participação em irregularidades ou crimes. Roriz foi vetado pelo TRE-DF porque a lei veda a candidaturas de quem renunciou ao mandato para escapar de processo de cassação, o que ocorreu em 2007. No Pará, no entanto, os deputados Jader Barbalho (PMDB) e Paulo Rocha (PT)(1), que também renunciaram em contexto semelhante, tiveram o registro confirmado pelo TRE local, sob o fundamento de que a Lei da Ficha Limpa não deve vigorar nessas eleições.

Virada Em meio a dúvidas jurídicas, Roriz busca usar a adversidade a seu favor, coisa que já conseguiu fazer em outras eleições, como em 1990 quando teve o registro negado pela Justiça local e depois confirmado pelo STF. Na época se discutia se ele poderia ser candidato à reeleição, uma vez que havia sido governador nomeado pelo então presidente José Sarney e pretendia concorrer na primeira eleição direta do DF. Conseguiu depois de meses de incertezas. Como naquele episódio, a meta agora é transformá-lo em vítima da Justiça contra a suposta vontade da população.

Um exemplo de apelo sentimental que atingiu o eleitorado é lembrado pelo grupo rorizista. Há uma avaliação de que um dos motivos da vitória de Roriz sobre o então governador petista Cristovam Buarque, em 1998, foi o embate entre os dois candidatos em debate transmitido pela TV Globo na véspera da eleição. O resultado do confronto era esperado como uma forma de virar a disputa liderada por Cristovam. Para rorizistas, o então petista foi tecnicamente melhor no tête-à-tête, mas perdeu justamente porque teria constrangido Roriz ao pedir que ele mostrasse na televisão se tinha condições de segurar um copo dágua sem tremer. Foi ali que ganhamos a eleição. Fomos dormir derrotados e no dia seguinte percebemos que não era bem assim. O eleitor teve pena de Roriz, um homem de idade que pode tremer quando segura um copo, aposta um dos principais assessores do ex-governador.

Escaldados pelas histórias do passado, os estrategistas da campanha de Agnelo Queiroz (PT) também traçaram seus planos para evitar que o adversário surfe na onda do sentimentalismo. A ordem é não atacar Joaquim Roriz. Não querem alimentar a imagem de vítima que o ex-governador quer passar ao dizer que os adversários dele querem ganhar no tapetão. Agnelo não vai bater diretamente no adversário em seus discursos de campanha e o grupo aliado adotará a linha de que prefere derrotá-lo nas urnas a vê-lo deixar as eleições por ordem da Justiça.

1 - Renúncias Jader Barbalho renunciou ao mandato de senador em 2001 depois de ver seu nome envolvido em denúncias de corrupção envolvendo o Banco do Pará (Banpará) e a Superintendência de Desenvolvimeno da Amazônia (Sudam). Paulo Rocha deixou o mandato depois de ser denunciado pelo Ministério Público como um dos beneficiários do suposto mensalão ocorrido no governo Lula.

URNAS EM TODO CANTO » O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) montou postos com urnas eletrônicas em vários pontos da cidade para simular a votação e ensinar os eleitores a usar o equipamento. Funcionários do TRE também esclarecem dúvidas sobre as próximas eleições. No ponto de atendimento instalado na Estação do Metrô da 114 Sul, os eleitores recebem folders informativos sobre a votação. A equipe aproveita para perguntar ao cidadão se ele tem acesso à internet e se sabe quais os documentos exigidos na hora da votação. As informações são incluídas em questionários que servirão de base para uma pesquisa quantitativa.Os funcionários do TRE cronometram o tempo gasto durante a simulação. A média registrada para cada eleitor foi de 50 segundos. Este ano quem estiver fora do seu domicílio eleitoral no primeiro e/ou segundo turno pode requerer a habilitação para votar em trânsito para presidente da República, indicando a capital do estado onde estará presente do dia da votação. O cadastramento pode ser feito até o próximo dia 15. Outra novidade nas eleições deste ano é a obrigatoriedade de a população ir às urnas com o título e um documento com foto. De acordo com informações do TSE, o objetivo é aumentar a segurança na identificação do eleitor.

O número 316 Total de ações que o TRE ainda precisa analisar na semana que vem