Título: Campos mantém negociação com Kassab
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2011, Política, p. A10
Desandou mas não azedou de vez a negociação sobre a incorporação, pelo PSB, do partido que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, planeja criar a partir de um núcleo dissidente do Democratas (DEM). Kassab prometeu aos dirigentes pessebistas criar o novo partido em "tempo recorde". Para disputar as eleições municipais de 2012, isso precisaria ocorrer até o dia 7 de outubro, no prazo de um ano antes da eleição.
A conversa do governador de pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, com o prefeito de São Paulo desandou quando Gilberto Kassab vazou a existência de uma negociação para a fusão entre o PSB e o Partido Democrático Brasileiro (PDB), sigla em articulação por Kassab e que, à época, parecia a saída mais simples de um grupo de descontentes do DEM, que além do próprio prefeito incluia pesos-pesados da sigla como Jorge Bornhausen (SC), Marco Maciel (PE) e a senadora Kátia Abreu (TO).
A notícia de que Kassab, em vez de um novo partido na realidade tramava a fusão com uma sigla socialista aliada ao governo arrefeceu demistas como Bornhausen e Maciel (adversário local de Eduardo Campos), mas também deixou irritado o governador de Pernambuco. Campos não pensara em "fusão" do PSB com o PDB. Sua ideia era a da "incorporação", o que é diferente.
A fusão pode ser feita entre dois ou mais partidos, sendo mais amplo o espaço para a negociação dos espaços de poder nas instâncias partidárias. A incorporação significa a absorção de um partido, no caso o PDB, e sua adesão ao estatuto e programa do outro, o PSB. Na prática, os pessebistas aguardavam por um "inventário" sobre o qual Eduardo Campos decidiria quem entraria ou não no PSB.
Os principais dirigentes do PSB somente fizeram uma avaliação conjunta da negociação no início deste mês, em reunião realizada em Vitória, capital do Espírito Santo, Estado governado por Renato Casagrande, um dos líderes do partido. A avaliação consensual é que Kassab "meteu os pés pelas mãos" e que o melhor era ganhar tempo enquanto se avalia se a negociação com Kassab vale ou não a pena.
Além do desgaste político, pois ficou a impressão de que se tramava um partido "barriga de aluguel" para quem deseja mudar de legenda sem infringir a lei da fidelidade partidária, os dirigentes do PSB calculam que não será fácil a empreitada de Kassab para criar um partido em curto espaço de tempo, mesmo que seja para obter o registro provisório na Justiça Eleitoral.
Ou seja, a bola agora está com o prefeito de São Paulo. Ele terá, primeiro, que criar o novo partido. Feito isso, ficou decidido na reunião de vitória que o PSB convocará um congresso nacional do partido para decidir sobre a incorporação, cuja aprovação requer o voto de dois terços dos delegados designados à convenção. Isso significa dizer que a criação do PDB por Kassab não é garantia de sua incorporação, mais tarde, pelo PSB de Eduardo Campos.
Partido em franco processo de crescimento, o PSB elegeu seis governadores e 34 deputados federais nas eleições de 2010, mas ainda é uma sigla identificada mais com a região Nordeste. O ingresso de Kassab daria uma referência importante aos pessebistas em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, e até um candidato competitivo na capital, o atual vice-governador Guilherme Afif Domingos, nome que Kassab sempre teve na manga para concorrer à prefeitura.
Além de Kassab, a reaglutinação do DEM tornou incertas as adesões que Kassab e o PSB previam ao novo partido. Há também a questão legal. Uma das possibilidades para a troca de partido sem que o detentor de mandato eletivo perca o cargo é participar da fundação de um novo partido político. Mas a interpretação predominante entre os advogados dos partidos é que o deputado ou senador precisa assinar a ata de fundação da nova sigla, para não ficar sujeito a ter de devolver o mandato ao partido pelo qual foi eleito. É apenas mais um obstáculo à frente de Kassab.