Título: População de Tóquio já enfrenta desabastecimento
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Fonte: Valor Econômico, 17/03/2011, Internacional, p. A12

O suprimento de gasolina e alimentos do Japão está se esgotando rapidamente, forçando não apenas os moradores do nordeste, assolado pelo terremoto, mas também de Tóquio a correr para comprar o que sobrou nas prateleiras cada vez mais vazias dos supermercados e lojas de conveniências. Yukio Edano, secretário de gabinete do primeiro-ministro, disse que os estoques estão se esgotando não apenas na zona de evacuação ao redor do complexo nuclear Fukushima Daiichi, mas também em áreas vizinhas, como Iwaki, cidade na costa nordeste do país.

"Por favor, distribuam produtos para essas regiões", que ficam dentro e fora da zona de alerta de 30 quilômetros ao redor da usina, disse o principal porta-voz do governo japonês num discurso na televisão. "As reações tem sido muito exageradas", disse ele em relação ao medo da radiação.

Em Iwaki, quase todas as lojas de conveniência estavam fechadas, enquanto os poucos supermercados abertos não tinham alimentos frescos e itens de necessidade diária, segundo um assessor de imprensa do governo municipal. Os que estão tentando deixar a cidade têm sido impedidos pela escassez de gasolina.

As autoridades ordenaram a retirada da população num raio de 20 quilômetros da problemática usina nuclear e recomendaram aos que moram num raio de 30 quilômetros que fiquem em casa, enquanto continuavam as tentativas de evitar uma crise nuclear de graves proporções.

Edano afirmou que o nível de radiação na usina era de cerca de 1.500 microsieverts na tarde de ontem, um patamar que ele enfatizou que não representa uma ameaça imediata à saúde das pessoas que permanecerem na zona de exclusão.

O pânico de radiação não tem se limitado apenas ao nordeste do Japão. Em Tóquio e no restante da região de Kanto, cerca de 240 km ao sul da usina, as pessoas já tinham começado a estocar suprimentos, em meio a temores de que os ventos pudessem levar a radiação até a capital.

"Fui ao supermercado comprar pão, macarrão instantâneo e enlatados, mas não tinha sobrado quase nada nas prateleiras", afirmou Mieko Saiki, de 29 anos, funcionária de uma consultoria de Tóquio.

O país já sobreviveu a outros terremotos gigantescos e tem um dos sistemas de distribuição mais sofisticados do mundo. Mas os varejistas afirmam que a crise que enfrentam agora é inédita.

"O caos gerado por esse terremoto e tsunami é tão abrangente", disse Koji Tsusue, porta-voz da rede de supermercados Aeon, acrescentando que engarrafamentos têm causado atrasos na entrega de suprimentos.

A gigante do varejo Seven & i Holdings, dona da rede de lojas de conveniência 7-Eleven e dos supermercados Ito-Yokado, informou que arroz, água, pilhas e papel higiênico estão desaparecendo das prateleiras.

"Com os tremores secundários e problemas na usina nuclear, eu entendo a psicologia dos consumidores", disse a porta-voz Mayumi Ito. "Mas estamos oferecendo os suprimentos gradualmente, então espero que eles comprem com mais tranquilidade."

O suprimento de gasolina está escasso, e a gigante local do refino JX Holdings ainda enfrenta a paralisação de três refinarias, com capacidade operacional de 667,5 mil barris. Esse escassez de combustível cada vez maior deixa de mãos atadas os varejistas que têm suprimentos mas não dispõem de combustível para transportá-los para as áreas mais atingidas pelo desastre.

"Não sei quando essa situação vai se acalmar", disse Yuki Takemoto, representante da rede de lojas de conveniência Lawson. Além da paralisação de sua fábrica na província de Chiba, a rede afirma que também começou a faltar matéria-prima.

Os comunicados do governo tentando diminuir a preocupação com os riscos da radiação não devem acalmar no momento os compradores mais exaltados.

"Mesmo que as pessoas avisem na TV que está tudo bem, não vou me arriscar a ser exposta à radiação", disse Aya Nishimura, de 27 anos, dona de casa em Tóquio.

"Não posso ficar em casa o tempo todo, então, quando saio, uso luvas, chapéu e máscara para proteger a pele", disse ela, acrescentando que a primeira coisa que faz de manhã é ir para a fila do supermercado comprar produtos que têm sumido cada vez mais velozmente das prateleiras.