Título: Expectativa de medidas no câmbio traz ao país US$ 6 bi em três dias
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2011, Finanças, p. C2
A expectativa de que o governo prepara novas medidas para controlar a entrada de moeda estrangeira levou os investidores a ampliaram fortemente o fluxo de divisas para o país.
Com o objetivo de se antecipar a controles mais rígidos para o movimento de câmbio, os agentes trouxeram US$ 6 bilhões em apenas três dias para a economia brasileira.
A média diária de movimentação nos pregões que sucederam a boataria chegou a US$ 2 bilhões, entre quarta-feira e sexta-feira da semana passada, segundo dados do Banco Central (BC). A média do mês de março já é superior, inclusive, ao período de capitalização da Petrobras, em setembro do ano passado, quando a entrada de capital bateu todos os recordes.
Os boatos também forçaram o Banco Central a agir, comprando o excedente de recursos para enxugar a liquidez abundante no mercado à vista. As pesadas intervenções da autoridade monetária também são semelhantes à época da capitalização da estatal de petróleo. A média diária atinge US$ 578,7 milhões em março, até o dia 11.
As fortes intervenções da autoridade monetária, que em certa medida ajudam a conter a valorização excessiva do real frente ao dólar, vão na contramão da política adotada pelo BC no passado recente, quando a apreciação da moeda ajudou no controle da inflação. Como lembra Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o país foi beneficiado nos últimos anos com ganhos nos termos de troca, que valorizou a moeda e neutralizou parte do aumento dos preços.
Nos últimos meses, no entanto, com as medidas tanto do Ministério da Fazenda quanto do Banco Central, a taxa de câmbio vem resistindo na casa dos US$ 1,67. O bônus dos termos de troca foi embora e o país importou boa parte da inflação de commodities vinda do exterior.
Mas o próprio BC sinaliza que o câmbio estável poderia novamente contribuir com o combate à inflação. Leal lembra que no parágrafo 31 da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) o BC apresenta um cenário alternativo, com câmbio estável, em que a inflação ficaria abaixo da meta já em 2012. "O BC diz que, se o câmbio ficar como está, é possível elevar menos os juros", afirma o economista.
A grande incerteza mundial, agravada pela tragédia no Japão, coloca ainda mais dúvidas sobre o comportamento da moeda nos próximos meses. Até mesmo uma desvalorização do real frente ao dólar poderia ocorrer num primeiro momento, segundo especialistas.
No ano, o saldo de entrada de moeda estrangeira no país está positivo em US$ 30,361 bilhões. É o terceiro maior volume da história, atrás apenas dos anos de 2006 (US$ 37,270 bilhões) e 2007 (US$ 87,453 bilhões).
Em março, o volume atingiu, até o dia 11, US$ 7,429 bilhões, ligeiramente superior ao mês de fevereiro (US$ 7,419 bilhões). O resultado decorre de entradas de US$ 6,919 bilhões no segmento financeiro, cujo fluxo é direcionado para aplicações em bolsa, títulos e investimento estrangeiro diretos. Outros US$ 510 milhões vieram ao país pela conta comercial, fruto da entrada de US$ 6,102 bilhões das exportações e saídas de US$ 5,592 bilhões em importações.