Título: Estrangeiro volta e impede queda maior
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2011, Eu & Investimentos, p. D2

As más notícias referentes à tragédia no Japão ontem vieram da Europa. O comissário europeu para energia, Guenther Oettinger, disse que a situação nas usinas nucleares de Fukushima está fora de controle e que uma possível catástrofe era apenas uma questão de horas para acontecer. Mesmo com o governo japonês tentando colocar panos quentes, a declaração provocou mais um dia de nervosismo para os mercados. O Índice Bovespa caiu 1,50%, fechando aos 66.002 pontos. Mesmo com a queda de ontem, a percepção é de que o mercado brasileiro continua em alguma medida resistindo aos acontecimentos tão negativos vindos do Japão. Uma explicação pode ser a volta do investidor estrangeiro ao mercado de Ibovespa futuro, o que se reflete no pregão à vista da Bovespa.

Nos últimos três dias, viu-se uma entrada de recursos estrangeiros, reduzindo os contratos vendidos em Ibovespa futuro. Segundo o gestor de renda variável da Infinity Asset Management, George Sanders, os contratos vendidos por estrangeiros caíram rapidamente de cerca de 40 mil para 30 mil. Apesar de ainda estarem vendidos, a redução dessa exposição é um sinal de que esses investidores estão menos convictos de que o mercado será de queda até o próximo vencimento do índice.

A grande pergunta é se esse fluxo internacional é apenas uma correção técnica para reduzir suas posições vendidas ou se será suficiente para os estrangeiros virarem compradores efetivos? Para Sanders, essa resposta depende principalmente do cenário externo, que até agora só se deteriora, seja por causa da Europa, do Oriente Médio, do norte da África ou agora vindo do Japão.

Ele afirma que há quem acredite que o mercado americano está fazendo suas mínimas e depois caminha para uma recuperação. "Caso essa suposição se confirme, existem grandes chances de o fluxo internacional se transformar em comprador de fato", afirma o gestor de recursos.

Por enquanto, o investidor estrangeiro ainda está saindo do mercado à vista. Prova disso é que o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de estrangeiro na Bovespa neste mês, até dia 14, está levemente negativo, em R$ 493 milhões. A queda de ontem da bolsa, com um volume bastante inflado, de R$ 8,6 bilhões, é um sinal de que esse investidor deve continuar na ponta vendedora das ações.

Essa volta do estrangeiro, pelo menos no mercado futuro, na visão de Sanders, faz parte de uma estratégia maior para os mercados emergentes. "Ele (o estrangeiro) aposta que a desaceleração econômica desses países será suficiente para fazer a inflação ceder, provocando, portanto, um aperto monetário menor do que inicialmente se previa", explica o gestor da Infinity.