Título: Ata convence e juros futuros caem na BM&F
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2011, Finanças, p. C2

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) promoveu um massacre dos comprados no mercado de juros futuros.

Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam o dia com forte queda na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

De forma simplificada, o Banco Central (BC) falou que os preços praticados na curva futura não estavam condizentes com a trajetória futura da política monetária.

O mercado "comprou" o cenário do BC e a percepção que cresce, agora, é que o encontro de 19 e 20 de abril do Copom pode marcar o último movimento de alta na taxa básica de juros, atualmente fixada em 11,75%.

O documento surpreende pela clareza e pela confiança que o BC demonstra no seu plano de voo. O colegiado reafirma a potência das ações macroprudenciais, afirma estar ciente de que a inflação seguirá pressionada no curto, mas que tal quadro começa a ser revertido ainda no fim de 2011. E reconhece que sua hipótese de ajuste fiscal foi "confirmada", já que o governo anunciou o ajuste de R$ 50 bilhões e venceu na votação do salário mínimo.

O pecado do BC, na visão de parte do mercado, é dar pouco peso aos riscos que envolvem as premissas utilizadas na montagem da estratégia.

A autoridade monetária reconhece que o balanço de riscos pende mais para o lado da inflação, mas adianta que os preços ao consumidor já incorporam parcela substancial do choque de commodities. Também há uma indicação que o grosso dos reajustes em preços administrados já é coisa do passado.

Ciclo de alta da Selic pode se encerrar na reunião de abril

A autoridade monetária aponta que ainda há um descompasso entre oferta e demanda, mas acredita que essas pressões devem se dissipar conforme tomam efeitos as medidas já anunciadas.

"Mas o BC combinou isso com os russos?" Para parte dos agentes, faltou indicar o que será feito se as coisas não saírem conforme o planejado.

No entanto, o ponto que trouxe discussões e análises mais acaloradas foi o parágrafo de número 31.

Nele o BC assume um "cenário alternativo". Algo completamente novo, já que todos estavam acostumados a ver o mundo ou pelo cenário de mercado ou pelo cenário de referência.

Tal cenário alternativo considera taxa de câmbio nos patamares recentes, a trajetória de juros cogitada pelo mercado (12,50% no fim do ano e 11,25% no fim de 2012) e mostra inflação acima da meta neste ano, mas ligeiramente abaixo em 2012.

A segunda parte do parágrafo 31 é que causou maior sensação. Vai ela inteira: "Ao se considerar esse cenário alternativo e as perspectivas de desaceleração da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, entre outros fatores, a eventual introdução de ações macroprudenciais pode ensejar oportunidades para que a estratégia de política monetária seja reavaliada".

Ou seja, se o BC lançar mais medidas prudenciais (seja compulsório maior, restrição ao crédito ou qualquer outra coisa do gênero), o ajuste da Selic pode ser ainda menor. Essa foi uma das leituras difundidas pelo mercado.

Outra visão, essa do Itaú Unibanco, mostra que: "A frase foi interpretada como excessivamente confiante com a inflação prospectiva, já que não há indicação equivalente no sentido contrário, do que poderia levar a um ajuste maior na taxa de juros, caso o cenário se revele pior do que projetado pelo comitê".

Já a turma do BTG Pactual extraiu diversas mensagens do mencionado parágrafo.

Primeira, que novas medidas prudenciais podem vir. Segundo, quando se fala em estratégia de política monetária, que o orçamento de alta pode ser menor, ou que a reversão do ciclo de alta pode acontecer antes do previsto.

Terceiro, que um elemento chave nesse ciclo mais suave é um real apreciado, na casa de R$ 1,65, no horizonte relevante.

Aqui, tal posição do BC entra em confronto com os rumores recentes de que a Fazenda pode anunciar novas medidas para conter a apreciação do real. Por isso, o BTG avalia que o governo pode não tentar promover uma forte desvalorização, mas sim tentar evitar uma significativa apreciação da moeda brasileira.

Outra consideração do BTG, é que esse cenário híbrido mira 2012. O que deixa implicitamente entendido que o horizonte de convergência do BC para a inflação é o próximo ano e não este.

Mais interpretações devem surgir nos próximos dias, mas algum consenso poder ser melhor elaborado com a divulgação do Relatório de Inflação, no fim deste mês.

No câmbio, o dólar voltou a subir. Segue a preocupação com novas medidas, mas já se começa a ouvir nas mesas que se nada for feito, as vendas retornam com força.