Título: Mercado eleva expectativa para a inflação e projeta crescimento menor do PIB
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Brasil, p. A5
O mercado voltou a elevar as expectativas de inflação, mesmo depois de a presidente Dilma Rousseff reafirmar, em entrevista ao Valor, seu compromisso com o controle de preços. A mediana das projeções aponta que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegará em 5,88% no fim do ano, contra 5,82% da pesquisa Focus da semana passada.
Os especialistas que respondem ao boletim do Banco Central (BC) não acreditam que seja possível, ao contrário do que afirmou a presidente, manter o ritmo de expansão da economia sem deixar que a inflação saia do controle.
Para eles, o IPCA se aproxima perigosamente do teto da meta, que é de 6,5%, e as medidas tomadas até agora (aumento dos juros, corte de gastos e medidas macroprudenciais) não são suficientes para trazer os índices de preços para o centro da meta neste ano.
Os economistas que mais acertam previsões, conhecidos como Top 5, estão ainda mais pessimistas. Para eles, o IPCA deve fechar o ano em 6,31%, permanecendo em patamar elevado até o fim de 2012, quando atingiria 5,1%.
Os cenários dos especialistas incorporam expansão mais moderada da atividade econômica, fruto do aperto monetário e do ajuste nas contas públicas. As estimativas para o PIB recuaram de 4,1% para 4,03%. Há um mês estava em 4,5%. Esse ritmo, na visão dos analistas, não é suficiente para trazer a inflação para a meta neste ano.
O preço de um combate mais ameno à inflação neste ano é que o problema pode ser transferido para o próximo ano, comprometendo também o crescimento de 2012. Os analistas reduziram pela segunda semana consecutiva a expectativa de expansão do PIB do próximo ano, que caiu de 4,5% para 4,4% nesse período.
O BC deixou claro, na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que fez uma opção pelo gradualismo, mas também não traça um cenário tão fácil para a convergência da inflação, que deve ocorrer apenas em 2012. Como destacou o presidente do BC, Alexandre Tombini, em conversa com senadores na semana passada, o BC acredita que a inflação encerre o ano perto de 5%, e o crescimento abaixo de 4,5%.
O quadro pintado por grandes economistas é de piora nas previsões. Segundo o Itaú, por exemplo, a inflação deve ir a 6,3% no fim do ano, próximo ao teto máximo de tolerância do regime de metas, com expansão do PIB de 3,6% no ano. Isso significa que, em seu primeiro ano de governo, Dilma pode ter inflação maior e crescimento menor.
"O aumento do grau de disseminação dos reajustes de preços pela economia e as pressões salariais acima da inflação e dos ganhos de produtividade, em um ambiente de demanda ainda muito aquecido, permitirão um maior repasse da alta das commodities no fim de 2010 e início de 2011 para o IPCA este ano. O aumento da inércia inflacionária elevará também a perspectiva de inflação para 2012. Elevamos nossa projeção para o IPCA de 2011 de 5,8% para 6,3%, e o de 2012 de 4,7% para 5%", afirmam Ilan Goldfajn, economista-chefe, e Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco.
Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, os indicadores de atividade econômica divulgados na semana passada (como o IBC-Br que apresentou expansão de 0,71% em janeiro sobre dezembro) surpreenderam positivamente, sinalizando que a desaceleração da atividade doméstica pode ocorrer mais lentamente do que o esperado.
"As medidas macroprudenciais e o ciclo de aperto monetário devem ter algum impacto sobre a atividade econômica ao longo dos próximos meses, mas ainda assim estimamos um crescimento do PIB da ordem de 4,5% neste ano, dada a atual robustez da economia doméstica", avalia a economista do Fibra.