Título: Queremos ser o partido da classe média, diz Lembo
Autor: Klein, Cristian; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Política, p. A11
De São Paulo Fundador do antigo PFL, hoje Democratas, o ex-governador Cláudio Lembo foi o segundo a assinar a lista de pedidos de criação do PSD, logo abaixo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Lembo defende que a legenda represente a classe média, com pequenos empresários e empreendedores. Aos 76 anos, o ex-governador diz que o DEM está ultrapassado e defende o PSD como a novidade na política. Em sua análise, o partido não terá ligação com o ex-governador José Serra (PSDB). Para ele, a relação entre Kassab e Serra é "pessoal".
Lembo presidiu o DEM em São Paulo e integrava o diretório nacional do partido. Em 2002, elegeu-se vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB). Ao assumir o governo, em 2006, quando Alckmin deixou o cargo para disputar a Presidência, expôs divergências em relação ao tucano e à aliança entre DEM e PSDB. Ex-secretário municipal nos governos de Jânio Quadros e de Paulo Maluf, atualmente é secretário de Negócios Jurídicos na gestão de Kassab. Após o lançamento do PSD em São Paulo, falou com o Valor.
Valor: Por que criar um partido?
Cláudio Lembo: A democracia está consolidada. Neste momento temos que criar ideias dentro do contexto de que não existe mais antagonismo entre direita e esquerda. Existe a ideia da evolução da economia, da democracia. O partido pode ser instrumento de renovação dos costumes.
Valor: Falou que o partido preencherá uma lacuna existente no sistema político-partidário. Que lacuna é essa?
Lembo: Os partidos estão todos marcados pelo passado. Será muito oportuno para o jogo político alguma coisa nova.
Valor: As diretrizes do PSD lembram as de outros partidos. O que vai ser diferente?
Lembo: As diretrizes são as ideias básicas da vida democrática. É a consolidação de todos os preceitos que existem na democracia. O DEM é coisa do passado. Está superado nas ideias, nas pessoas e, particularmente, na capacidade de ação. Ele se perdeu fora da realidade nacional. O PFL [sic] valeu para aquele momento de rompimento com o regime autoritário. Hoje está consolidada a democracia. Não há motivo para permanecer. Não tem mais seiva, não tem mais força para prosseguir. Fica uma coisa antiga, de um antagonismo neurótico, de quer ser adversário porque é da prática do passado. Hoje não existe amigo-inimigo. Existem aqueles que são parceiros da democracia.
Valor: Qual o futuro do PSD?
Lembo: Deve ser um partido representativo das classes médias. Está faltando um partido de classe média e ele tem tudo para ser. Hoje o empresário já está nos partidos. Está no PT. Os nossos vão ser os pequenos empreendedores, o pequeno empresário, a pequena liderança local.
Valor: Como será a relação do partido com o governo federal?
Lembo: Quando for necessária e for positiva a posição do governo federal, apoiaremos. Quando for negativa, fiscalizaremos.
Valor: E com o PSDB?
Lembo: É a mesma coisa. Toda vez em que as coisas forem positivas, deve-se aplaudir. Quando forem negativas, fiscaliza-se e oferece-se rumos.
Valor: Que tipo de influência José Serra deve ter no partido?
Lembo: Creio que não há ligação com Serra, a não ser de maneira pessoal. Não há nenhuma ligação com o governador Serra. Se houvesse, ele estaria aqui. Ele tem um partido e permanece no partido dele. (CA)