Título: DEM inicia recomposição em São Paulo
Autor: Klein, Cristian; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Política, p. A11
A saída do prefeito Gilberto Kassab do Democratas vai obrigar o partido a se recompor em São Paulo. A Executiva Nacional reúne-se em Brasília na quinta-feira para decidir a substituição da comissão provisória estadual, até então presidida por Kassab. Caberá ao novo comando estadual do DEM, por sua vez, fazer intervenção no diretório municipal da capital, também dirigido pelo prefeito.
"Temos quadros de sobra para recompor", afirmou o recém-eleito presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN). Sua avaliação é feita com base na decisão da "esmagadora maioria" do partido em São Paulo de não acompanhar Kassab.
"É uma lamentável perda, mas não é letal, dada a quantidade de gente que fica. É a perda de um quadro importante, mas que em nada atrapalha os planos de futuro do partido", disse Agripino, após o evento em que Kassab formalizou a saída do DEM e o lançamento do Partido Social Democrático (PSD). Após a recomposição do DEM em São Paulo, Agripino começará a percorrer o país para "massificar a formulação programática" do DEM e tentar organizar o partido em todos os municípios.
A movimentação do prefeito e de aliados seus rumo à base aliada de presidente Dilma Rousseff é vista pelos dirigentes do DEM como oportunidade de o partido endurecer o discurso de oposição e tornar mais clara sua formulação programática, como a defesa de um estado menor e da participação do capital privado na produção de infraestrutura.
"O partido diminui de tamanho, mas ao mesmo tempo ele ganha com um discurso oposicionista mais consistente. Fomos eleitos para estar na oposição. É importante que todos que tiverem ideia diversionista que aproveite logo essa avenida [para sair do partido]. Quem permanecer no DEM vai ficar naturalmente comprometido com o discurso oposicionista, o ideário liberal", disse o líder do Democratas no Senado, Demóstenes Torres (GO).
A opinião é compartilhada pelo ex-deputado José Carlos Aleluia (BA), vice-presidente para assuntos do meio ambiente do Democratas. Para ele, a saída de Kassab e seguidores representa uma "depuração espontânea" para o DEM. Para ele, os deputados federais que acompanharem o prefeito na "aventura" do novo partido vão virar "zumbi" na Câmara, já que as relatorias, a participação nas comissões e outros espaços são distribuídos aos parlamentares em função do resultado eleitoral.
"Foi uma arquitetura jurídica montada para fraudar o princípio da fidelidade. Já nasceu sem cérebro e com data para morrer", afirmou Aleluia.
Reação mais dura teve o líder do Democratas na Câmara dos Deputados, ACM Neto (BA). "Nasceu, hoje, o PSD, o partido sem decência, o partido sem dignidade. O DEM tem de ir para a oposição ao Kassab. Vamos enfrentá-lo em SP", escreveu em sua página no Twitter, ontem à noite. Assim como os demais dirigentes do DEM, o líder explorou a rejeição recorde de Kassab, apontada em pesquisa Datafolha.
"E aí, Kassab? O povo de SP, que o conhece, deu 43% de rejeição à sua administração. Assim, vai acabar como um dos piores prefeitos do Brasil", disse. Ainda por meio do Twitter, ACM Neto avaliou que a rejeição deve-se ao fato de Kassab ter abandonado São Paulo "para espalhar a política de baixo nível pelo país. Paulistano não perdoa". A virulência da reação de ACM Neto se explica, também, pela divisão do carlismo, na Bahia, onde o prefeito Kassab conseguiu importantes adesões.
O PT de São Paulo observa com atenção a movimentação de Kassab em direção à base de Dilma. Petistas dizem que o partido não estimulou nem incentivou a articulação, embora a relação com Kassab sempre tenha sido de boa interlocução.
Para petistas, os partidos aliados de Dilma podem até ceder espaço no Congresso para filiados do novo partido - evitando que se transformem em "zumbi", como prevê Aleluia -, mas não há perspectiva de aliança com o prefeito nas eleições de 2012 ou 2014. A avaliação é que, para apoiar um candidato do PT à sua sucessão, Kassab cobraria apoio à sua pretensão de disputar o governo do Estado em 2014 - o que passa longe dos planos do PT.