Título: PSD remonta à campanha de Afif de 1989
Autor: Klein, Cristian; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Política, p. A11

O lançamento do Partido Social Democrático (PSD), ontem, em São Paulo, mostrou que a legenda pode ser uma iniciativa do prefeito paulistano Gilberto Kassab, mas seu núcleo remonta a um grupo de políticos que acompanham o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, desde sua campanha à Presidência, em 1989. Kassab é o maior expoente do grupo, com força eleitoral e detentor de cargo público mais importante no novo partido. Mas o ideólogo e aglutinador é Afif. As origens do partido foram ressaltadas ontem por alguns dos presentes à cerimônia, em São Paulo. O prefeito de Mogi das Cruzes, Marco Aurélio Bertaioli, explicou sua saída do DEM e a adesão ao PSD dizendo tratar-se de uma questão de lealdade ao grupo. "Estamos com Afif há mais de 20 anos", afirmou, numa referência à campanha de 1989.

O ex-deputado federal Jorginho Maluly, não reeleito em outubro, lembrou sua relação histórica com o DEM, ex-PFL, cujo um dos fundadores foi seu pai, o empresário Jorge Maluly Netto, ex-deputado estadual e federal, ex-prefeito de Mirandópolis e de Araçatuba, mas disse que é "sempre hora de novos horizontes". E também ressaltou os laços antigos com Afif e sua campanha presidencial, a qual se referiu como "a jornada de 1989".

"Vemos aqui que o grupo está cada vez mais forte", disse, ao se dirigir à plateia presente no auditório da Assembleia Legislativa paulista e dar sua assinatura de apoio à criação do PSD. No evento político, Afif teve destaque. Foi ele o responsável por descrever os princípios da nova legenda, distribuídos no que chamou de 12 mandamentos.

O anúncio em São Paulo veio um dia depois do lançamento, em Salvador, quando o vice-governador Otto Alencar declarou sua saída do PP para aderir à legenda. Alencar também pertence ao grupo que fez campanha para Guilherme Afif Domingos em 1989. À época, ele era deputado estadual pelo PL (hoje PR) - partido pelo qual Afif se lançou à Presidência. Otto Alencar comandou a campanha no Estado, embora fosse ligado ao ex-governador Antonio Carlos Magalhães, que apoiava Fernando Collor de Mello (PRN).

Kassab é o que cultiva relações por mais tempo com Afif, há quase 30 anos. O prefeito, aos 24 anos, começou sua vida política na Associação Comercial de São Paulo, dirigida por Afif. Isso ocorreu cinco anos antes da candidatura presidencial, quando Kassab teve participação ativa na campanha.

Afif reconheceu que o partido tem essa matriz, que remonta à sua candidatura ao Planalto. "Estou viajando pelo país e me surpreendo como aqueles laços se mantêm. Isso é a prova de que "juntos chegaremos lá"", disse, utilizando o slogan de sua campanha de 21 anos atrás para mostrar otimismo em relação à criação do partido.

Apesar desses laços comuns, que unem integrantes do novo partido, o lançamento do PSD reuniu na Assembleia uma turma de políticos que estão vendo na criação da legenda uma oportunidade para encontrar espaço político. Essa é a aposta da ex-deputada Zulaiê Cobra. Depois de passar pelo PSDB, PHS e DEM, ela acredita que terá apoio dentro da nova legenda para disputar eleições. "Ninguém me dava espaço antes", reclamou Zulaiê. A ex-deputada atentou para o esvaziamento do DEM em São Paulo, cujo diretório era comandado por Gilberto Kassab e seu grupo. "Todo mundo vai embora com ele. Era Kassab quem mandava". Na direção nacional do DEM, dos dez integrantes indicados por São Paulo, seis anunciaram a migração.

A saída do grupo ligado a Kassab e Afif começa a dar sinais preocupantes ao DEM. Só nos dois Estados em que o PSD foi lançado, nove deputados federais anunciaram a migração (quatro em São Paulo e cinco na Bahia). Com isso, a bancada diminui de 44 parlamentares para 35. Nas próximas semanas, o partido será lançado em sete Estados, o que pode aumentar o êxodo.

O PSD ainda está em fase de coleta de assinaturas - serão necessárias quase 500 mil. Mas as ideias principais foram apresentadas ontem, por Afif. Os 12 mandamentos da sigla mostram semelhanças em relação às diretrizes do DEM. Desenvolvimento sustentável, voto distrital e negociação direta entre patrões e empregados são as novidades.

Afif e Kassab descartaram a possibilidade de fundir o PSD com outra legenda em um futuro próximo. "Não faremos a fusão. O partido caminhará com suas próprias pernas na eleição de 2012, seja coligado ou com candidatura própria", disse o prefeito, que foi alvo, no início da cerimônia, de manifestantes que criticaram o preço da passagem de ônibus na capital.

Kassab contou ter convidado três nomes para sucedê-lo: Afif e os secretários municipais de Planejamento, Francisco Vidal Luna, e de Meio Ambiente, Eduardo Jorge. No entanto, eles recusaram.

Com relação ao governo federal, Kassab afirmou que a sigla terá uma postura de independência, embora seu discurso, para quem vem de um partido de oposição, indique apoio. "Me orgulho muito de ter votado no [José] Serra. Mas hoje o Brasil tem um novo presidente. Seja como cidadão, seja como eleitor, seja como dirigente desse novo partido, estou ao lado daqueles que torcem para o sucesso da presidente Dilma", disse.