Título: Brasil pede cessar-fogo e fim dos ataques aéreos à Líbia
Autor: Seib, Gerald F.
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Internacional, p. A12

Um dia após a visita ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, o governo brasileiro, seguindo o exemplo da Rússia, China, Índia e Alemanha, reagiu aos ataques aéreos à Líbia com um pedido de cessar fogo no país. Após conversar sobre o assunto com a presidente Dilma Rousseff, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, divulgou uma nota em que pede retomada de negociações para o estabelecimento da democracia na Líbia e o fim do massacre da população civil.

O ataque aéreo à Líbia foi autorizado por Obama logo ao chegar ao Brasil, e no fim do encontro com Dilma o tema foi abordado pelo presidente americano, que repetiu à brasileira os argumentos humanitários usados pelos EUA para justificar a intervenção armada contra Gadafi. "Tememos muito uma solução de caráter militar", disse Dilma, segundo um dos participantes do encontro. "O que está em jogo, presidente, não é só a democracia, mas a civilização", argumentou a presidente.

"Os desdobramentos da crise na Líbia fortalecem a decisão de China, Rússia, Índia, Brasil e Alemanha no Conselho de Segurança das Nações Unidas", comentou, para o Valor, o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, lembrando a decisão de bloquear o espaço aéreo com "todos os meios necessários" para proteger os civis, tomada na semana passada pelo Conselho de Segurança com a abstenção dos cinco países. "Desde o início havia ambiguidades no sub-texto da proposta aprovada", criticou Garcia.

Ele disse que, durante a discussão da resolução das Nações Unidas, alguns governos, entre eles o Brasil, apoiavam a imposição de uma zona de exclusão aérea para impedir o ataque do ditador Muamar Gadafi contra os rebeldes. "Mas começaram a surgir declarações sobre ataques estratégicos, cirúrgicos ou não; e até declarações de que se buscaria matar Gadafi", comentou o assessor de Dilma.

Os governos da região se preocupam com a abertura de uma "caixa de Pandora", as consequências imprevisíveis dos ataques sobre grupos políticos da região, disse Garcia. Outra preocupação é o precedente da ação armada e sua possível disseminação como solução de conflitos.