Título: Deserção de generais aprofunda protestos no Iêmen
Autor: Seib, Gerald F.
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Internacional, p. A12

Agências internacionais

A crise política no Iêmen se aprofundou ontem com a decisão de generais influentes, embaixadores e de alguns líderes tribais de retirar seu apoio ao presidente Ali Abdullah Saleh. Há 32 anos no poder, Saleh tem sido pressionado há várias semanas por manifestantes que exigem sua saída. Na semana passada, mais de 50 manifestantes foram mortos.

Ontem a França exigiu a renúncia do presidente, classificando sua saída de "inevitável". Foi a primeira manifestação pública de um país ocidental em defesa do fim do regime. Os EUA e o Reino Unido cobraram que Saleh encontre uma saída para a crise que não passe pela repressão aos manifestantes. Washington orientou seus cidadãos no país a não sair de casa dado o quadro de instabilidade. O Iêmen tem sido um aliado dos EUA na luta contra a rede al-Qaeda.

Na sexta-feira, atiradores mataram 52 manifestantes na capital, Sanaa. O episódio parece ter detonado recentes deserções de autoridades iemenitas. Para tentar deter a crise, Saleh destituiu seu gabinete e declarou estado de emergência com duração de 30 dias.

Ontem, Ali Mohsen, um general influente, anunciou que estava deixando de apoiar o governo - num significativo revés para o regime. "Anunciamos nosso apoio pacífico à revolução pacífica dos jovens", disse Mohsen à rede de TV árabe Al Jazeera. Segundo ele, reprimir manifestações pacíficas "é empurrar o país para uma guerra civil". Manifestantes aplaudiram o apoio e disseram que confiam no Exército como instituição capaz de proteger a população civil.

Outros dois generais teriam passado a apoiar os manifestantes - a mesma iniciativa tomada pelo líder de um importante grupo tribal, o al-Ahmar, que vinha apoiando Saleh. Uma autoridade do governo disse que Saleh pediu ao governo da Arábia Saudita que faça a intermediação da crise. O ministro da Defesa iemenita, Mohammad Nasser Ali, procurou tirar o peso das deserções e disse que o Exército continua fiel ao presidente.

A onda de protestos que atinge os países árabes desde o fim de 2010 se espalhava pelo sul da Síria ontem. Não houve reação policial. Na semana passada, civis foram mortos por forças do presidente Bashar al-Assad, há 11 anos, no poder.