Título: Fidel Castro voltou
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2010, Mundo, p. 21

Depois de quatro anos, comandante discursa no Parlamento e alerta sobre guerra nuclear

Com a voz um pouco embargada, mas com o mesmo porte de líder e o uniforme verde-oliva que não envergava em público havia quatro anos, Fidel Castro fez ontem sua primeira aparição política de vulto desde que deixou o poder, em 2006, após uma cirurgia abdominal de emergência. O ex-presidente cubano foi ovacionado e discursou em sessão extraordinária do Parlamento, transmitida ao vivo por emissoras de rádio e televisão do país e também pela mídia internacional. A uma semana de completar 84 anos, ele esbanjou disposição e saúde. O discurso foi um alerta para o perigo de uma guerra nuclear, caso os Estados Unidos e Israel resolvam atacar o Irã. Nunca na história houve situação como esta, afirmou o comandante.

De pé na tribuna, Fidel Castro defendeu a paz, cobrou uma postura do presidente dos Estados Unidos e afirmou que a decisão de iniciar um conflito nuclear está nas mãos de Barack Obama. No mesmo instante em que (Obama) desse a ordem, estaria ordenando a morte instantânea não apenas de centenas de milhões de pessoas, entre elas um incalculável número de sua própria pátria, assim como dos tripulantes de todos os navios da frota dos EUA nos mares em torno do Irã. Simultaneamente, a conflagração explodiria em todo o Oriente e em toda a Eurásia, profetizou o patriarca do regime comunista.

O ex-presidente fez um discurso breve, se comparado aos que pronunciava antes da enfermidade: falou apenas por 10 minutos e depois respondeu a perguntas dos parlamentares. Quando questionado se Obama seria capaz de começar uma guerra nuclear para ocultar o fracasso do imperialismo, respondeu: Não, se o persuadirmos. Para Fidel, o Irã não deve ceder à pressão dos EUA e de Israel. Portanto, caberia ao governo americano contornar a situação.

O líder cubano também culpou o aquecimento global pela onda de incêndios florestais na Rússia, que enfrenta uma onda de calor sem precedentes nas últimas três décadas, lembrou os 65 anos da bomba de Hiroshima e alertou para os perigos de uma guerra nuclear. A ordem atual estabelecida no planeta não poderá perdurar e inevitavelmente será derrubada, de imediato. As chamadas divisas conversíveis perderão seu valor como instrumento do sistema que impôs um aporte de riquezas, de suor e sacrifícios sem limites aos povos, discursou.

Em 31 de julho de 2006, Fidel Castro passou o poder para o irmão Raúl, hoje com 79 anos, por causa de problemas de saúde. No fim da sessão parlamentar de ontem, o ex-presidente se despediu dos parlamentares e completou: Espero que possamos nos encontrar de novo no ano que vem.

Quis o acaso que, neste instante, o presidente dos EUA seja um descendente de africano e de branco, de maometano e cristão

Fidel Castro, ex-presidente de Cuba

Transição na Colômbia

Nas últimas horas como presidente da Colômbia, Álvaro Uribe encerrou oito anos de governo com um ato que deve complicar ainda mais as relações do país com a Venezuela. Ele denunciou Hugo Chávez por abrigar guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) perante o Tribunal Penal Internacional de Haia e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA). Na tarde de ontem, o ex-ministro da defesa Juan Manuel Santos assumiu a Presidência na presença de 17 chefes de Estado, entre eles o presidente Luis Inácio Lula da Silva, que deve atuar como mediador entre os dois governos.

O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, chegou a Bogotá para a cerimônia de posse com uma mensagem de amor e solidaridade da parte do presidente Hugo Chávez. Queremos estender nossa mão, felicitar o governo do presidente Santos e dizer a ele que viemos com a melhor disposição de avançar, olhando para o futuro, declarou à imprensa quando desembarcou. Mais tarde, o representante venezuelano disse à agência de notícias EFE que a denúncia de Uribe era umacoisa de ódio que queremos deixar no passado. Maduro deve se encontrar hoje com a ministra de Relações Exteriores de Santos, Maria Ángela Holguín.

No jantar de despedida de Álvaro Uribe, na noite de sexta-feira, Lula afirmou estar otimista com a tentativa de reaproximar os dois países depois da mudança no governo colombiano. Vocês estão lembrados do Irã, que eu falei que acreditava em 99% (de chance de ser fechado o acordo para a o enriquecimento de urânio fora do território iraniano). Agora acredito 100% (na reaproximação entre Caracas e Bogotá), afirmou o presidente à emissora britânica BBC Brasil.