Título: História dos dirigentes mistura sindicalismo e partidos
Autor: Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2011, Especial, p. A14

De São Paulo

Recém-empossado como secretário-adjunto do Desenvolvimento e do Trabalho na prefeitura de São Paulo, a trajetória de Luiz Antônio Medeiros serve como indicativo da central que ele fundou, que migrou do apoio à Fernando Collor à defesa do governo Lula. Do "sindicalismo de resultados" ele passou à defesa da privatização da CSN, de secretário no Ministério do Trabalho no governo Lula, ele virou secretário do prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Durante a fase de maior repressão da ditadura militar, no governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), Medeiros, então militante do Partido Comunista, se exilou no Chile, governado pelo socialista Salvador Allende. O golpe do general Augusto Pinochet, em setembro de 1973, fez Medeiros ir à Cuba, e depois à Moscou. Viveu cinco anos entre os russos, onde estudou na Escola de Formação de Quadros Internacionais. Quando voltou, viu que o caminho era outro. "Não dava para defender Estado grande com a União Soviética falindo, a hora era de modernização", diz.

Em 1987, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, lançou o slogan de "sindicalismo de resultados", para contrabalançar o sindicalismo ideológico da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 1989, apoiou Fernando Collor nas eleições. Em 1991, fundou a Força Sindical, de onde se afastou em 1999, depois de se eleger deputado federal pelo PFL, deixando Paulinho na presidência. "Me afastei totalmente do sindicalismo, tudo o que eu precisei fazer para consolidar a Força eu fiz até aquele momento".

No fim de 1992, a direção da Força se dividiu em três frentes estratégicas. Uma, chefiada por Medeiros, acompanhava o desenrolar do impeachment de Collor, a quem apoiou até o fim. Outra, concentrava energias nas eleições do primeiro grande sindicato, dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que seria privatizada no ano seguinte. Finalmente, um terceiro grupo embarcou aos Estados Unidos, após a vitória de Bill Clinton nas eleições de outubro, para acompanhar a atividade sindical naquele país, que era visto pelos dirigentes da Força como "exemplo de modernidade a ser seguido", nas palavras de um integrante daquela viagem.

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, era então secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e também fez parte do grupo que viajou aos EUA. Lá, diz ele, o que mais lhe chamou a atenção não foi a atividade sindical, mas o fato de o telefone fixo ser "tão disseminado". No ano anterior, quando foi promovido a secretário-geral, Paulinho gastou US$ 6 mil para comprar seu primeiro telefone fixo, contraindo inclusive seu primeiro empréstimo do sindicato. "Como alguém poderia apoiar a permanência do Estado em serviços como telefonia, se estávamos tão atrasados?", afirma Paulinho, que, no entanto, diz nunca ter apoiado Collor. "Quem apoiava o Collor era o Medeiros. Eu defendia as privatizações, só isso".

Tal como seu antecessor, a trajetória política de Paulinho passou por quase todos os campos políticos. Apoiou Leonel Brizola nas eleições de 1989, saiu candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes em 2002, apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) nas eleições de 2006 e Dilma Rousseff (PT) no pleito do ano passado.

Para um ex-dirigente da Força, "se o [José] Serra tivesse ganhado as eleições [de 2010], Paulinho já estaria apoiando ele". Artur Henrique, presidente da CUT, diz que as recentes críticas de Paulinho à opção do governo Dilma de reajustar o salário mínimo de 2011 sem ganho real fazem parte de uma estratégia de longo prazo. "Paulinho e a Força já estão voltando à antiga defesa do PSDB, pensando em apoiar o Aécio [Neves] em 2014."

Para Paulinho, no entanto, seu apoio à então candidata Dilma, em 2010, foi "antes pessoal que político". O deputado federal é amigo de Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, "há mais de 26 anos". Paulinho também afirmou ao Valor que sua defesa do governo Lula não foi "de todo incoerente", uma vez que o atual deputado pedetista foi fundador do PT - Paulinho foi o primeiro presidente do PT em Franco da Rocha, em 1980. "Nunca votei no Lula para presidente, mas a relação do governo Lula mudou com as centrais depois do "mensalão"", afirma o sindicalista, para quem "ficou difícil atacar Lula, porque ele fazia tudo o que a gente pedia".

Além dos holofotes políticos, Paulinho também atraiu a atenção da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal. Ao mesmo tempo em que as seis maiores centrais sindicais passaram a deter uma parcela do imposto sindical, em abril de 2008, a PF enviou à Justiça um relatório onde afirma que Paulinho teria recebido R$ 325 mil para intermediar empréstimo de R$ 124 milhões do BNDES para a prefeitura de Praia Grande (SP). Por se tratar de processo contra deputado federal, que goza de foro privilegiado, os termos são sigilosos.

Na semana passada, a Justiça condenou Paulinho a pagar multa de R$ 1 milhão por improbidade administrativa e irregularidades na aplicação de R$ 2,85 milhões em recursos públicos para uma fazenda em Piraju (SP). Paulinho já entrou com recurso. Ao Valor, afirmou que caso precise pagar, realizará uma "vaquinha" nas portas de fábricas. (JV)