Título: Pequenas enfrentam dificuldades no país
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2011, Empresas, p. B8

Do Rio As pequenas e médias empresas de petróleo convivem com uma série de dificuldades no Brasil, onde a produção não conseguiu deslanchar depois de uma década da primeira tentativa de venda, pela Petrobras, de campos com produção marginal em bacias maduras, em 2000. Hoje, a produção dessas empresas é muito pequena. Retirando-se os quatro maiores produtores do país - Petrobras, Shell, Chevron e Devon (em fase de aquisição pela BP) - as outras 19 empresas extraem, juntas, apenas 2.600 barris de petróleo por dia, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) relativos a janeiro. É menos de 1% da produção nacional de óleo equivalente, que foi de 2,54 milhões de barris de petróleo e gás em janeiro.

Somado o gás natural, a produção dos pequenos sobe para 2.808 barris de óleo equivalente. A lista de produtores inclui empresas de maior porte como a estatal angolana Sonangol, que adquiriu a brasileira Starfish e produziu 459 barris de óleo em janeiro. Sem poder de negociação, essas empresas enfrentam dificuldades para escoar a produção e não têm acesso a instalações de tratamento do óleo bruto, a maioria de propriedade da Petrobras. Se as grandes petroleiras podem embarcar sua produção em navios e vender no exterior, as pequenas não têm volume e nem receitas que permitam operar no mercado internacional de petróleo. Ao contrário, só há barreiras.

A Petrobras, única refinadora do país, não tem interesse em comprar o óleo não tratado - que sai do poço misturado com água e sal, principalmente - e a saída tem sido vender para formuladores em São Paulo. São empresas que funcionam como uma pequena central petroquímica, podendo fabricar gasolina e óleo diesel a partir de derivados de petróleo como a nafta, o tolueno e o xileno.

Existe aí mais um problema de logística, já que os pequenos produtores estão no Nordeste e os formuladores no Sudeste. O formulador opera, na prática, como uma pequena central petroquímica, podendo fabricar gasolina e óleo diesel a partir de derivados de petróleo como a nafta, o tolueno e o xileno.

Uma boa notícia para o setor foi a criação da Dax Oil, que inaugurou uma torre de destilação atmosférica ao lado do polo petroquímico de Camaçari, na Bahia, depois de investir R$ 20 milhões em recursos próprios para compra de equipamentos totalmente projetados e construídos no país com tecnologia nacional e capacidade de processar 2.500 barris ao dia. Em linguagem simples, isso significa que a Dax tem equipamentos para "tratar" o petróleo bruto retirando a água e o sal para que esse óleo seja mais vendável no mercado. Parece óbvio, mas até agora a única compradora era a Petrobras, que só tem um ponto de coleta desse petróleo bruto na refinaria Landulfo Alves (Relam), onde a estatal construiu uma unidade de tratamento especialmente para coleta da produção dos independentes. Os produtores do Rio Grande do Norte entregam seu óleo à Transpetro, que cobra custos e serviços e envia o produto para a Bahia.

Para chegar até lá os pequenos precisam se virar para entregar o petróleo que, em certos casos, precisa viajar em carretas misturado com água. A operação, obviamente, não é a mais econômica. Mas os pequenos não têm porte que justifique o aluguel de áreas de tancagem e transporte por navio.

A Dax Oil opera desde 2008 produzindo solventes mas enfrentava dificuldades para aquisição da nafta: a Petrobras é a única produtora no país e fornece toda a produção para as centrais petroquímicas (operadas pela Braskem, na qual é dona de 47% do capital votante). Atualmente, a Dax compra todo o condensado de gás produzido no campo de Manati (sociedade da Queiroz Galvão com a Petrobras) e também importa nafta da Esso Argentina.

Depois de tomar fôlego, a empresa decidiu investir para processar óleo do recôncavo baiano. "Os produtores aqui tinham o problema inverso do nosso, tinham produção mas não para quem vender", resume Cyro Valentim, sócio e diretor-executivo da Dax.

A Dax é compradora potencial da produção de pequenas empresas não só da Bahia. Fez um acordo com a refinaria Manguinhos, no Rio, que pode comprar até 288 mil barris de óleo pré-processado ao ano, mas ainda não passa de intenção. Valentim diz que ainda não tem contrato de compra de petróleo com nenhuma empresa, mas está negociando com várias, inclusive a Vipetro, de Vitória (ES). "Estamos na fase de negociar a aquisição de petróleo com produtores independentes. O valor do petróleo está muito alto hoje e precisamos saber muito bem como fazer essa negociação para tornar a operação viável".

Com a cotação acima de US$ 100 e diante da possibilidade de novas altas por causa da tensão na Líbia e Arábia Saudita, o executivo explica que está propondo uma fórmula de preço que permita calcular o valor das frações mais nobres do petróleo e as mais pobres. As primeiras permitem fabricar a nafta petroquímica e as seguintes o óleo diesel e o óleo combustível, sendo esse último um combustível mais "sujo" e menos lucrativo.