Título: Tombini cara a cara com economistas
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2011, Finanças, p. C2

Tais reuniões são trimestrais e acontecem antes da conclusão do Relatório Trimestral de Inflação. O último desses encontros aconteceu em dezembro, quando Henrique Meirelles ainda comandava a instituição.

Apesar de as pessoas não serem estranhas - afinal de contas,os principais diretores do BC são os mesmos e Tombini é funcionário de carreira - os economistas vão ao encontro com a percepção de que esse é um novo Banco Central (BC).

Grande parte de tal percepção decorre das tais medidas macroprudenciais, que certamente estarão no foco das discussões que tomam lugar em São Paulo, nesta segunda-feira, e no Rio de Janeiro, amanhã.

O assunto ganha ainda mais peso depois da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada e seu famoso parágrafo 31, que aventou um "cenário alternativo" e foi interpretado como uma indicação clara de que novas medidas prudenciais podem ser adotadas em breve.

Cabe lembrar que, nesse encontro, o BC não fala. Apenas ouve o mercado para fazer os arremates no Relatório de Inflação. Mas o clima geral deve ser de dúvida entre os participantes do encontro.

Além das questões envolvendo as medidas prudenciais, outra dúvida corrente no mercado é se esse BC seria mais tolerante com a inflação. Pois mesmo sabendo que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses pode ultrapassar o teto da meta nos próximos meses, o BC segue firme em sua estratégia que sugere um mix de ferramentas tradicionais de política monetária, com medidas prudenciais aliadas a uma política fiscal menos expansionista.

Certamente os economistas mais ortodoxos devem questionar a potencial perda de credibilidade do regime de metas de inflação vendo o IPCA próximo de 6% por dois anos consecutivos. Sem falar na precoce deterioração de expectativas para o fim de 2012 e os acenos de que o horizonte relevante de convergência da inflação não é mais o ano calendário. No caso atual, o BC se mostra confortável com IPCA ao redor da meta apenas no próximo ano.

No entanto, há de se ponderar que a ata da última quinta-feira já serviu como um calmante aos críticos mais inflamados do modelo de atuação da autoridade monetária. Isso ficou visível na recente rodada de relatórios e comentários.

Outro questionamento plausível é se tal estratégia adotada pela autoridade monetária não carrega elevado grau de risco. Ou seja, se a evolução do cenário não ocorrer conforme o planejado qual será a resposta? E qual será o custo de mudar de rumo?

Vale ressaltar que os encontros acontecem em um momento em que o mercado está na expectativa de que serão anunciadas novas medidas cambiais.

Os agentes passaram a semana convivendo com um bombardeio de notícias citando as famigeradas "fontes próximas ao governo" ou próximas "ao ministro" dando conta de que as medidas estão para sair e quais ações poderiam ser tomadas.

Esse clima de ansiedade e expectativa explica boa parte da valorização de 1,28% que o dólar comercial acumulou nos três pregões da semana passada. Maior ganho semanal do ano.

Na sexta-feira, a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda descartou qualquer anúncio de medida cambial naquele dia e completou que os rumores que circulam no mercado "são mera especulação".

O anúncio não foi recebido com alívio, mas sim com mais desconfiança. Tanto que as compras ganharam corpo assim que tal notícia passou a circular. "Sempre que o governo nega é porque alguma coisa vem", disse um operador.

O dólar comercial fechou com alta de 0,30%, a R$ 1,666. A esse preço, a moeda americana zera as perdas acumuladas em 2011.

Conforme notou o economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, alguma coisa tem de ser feita pelo governo, caso contrário, a resposta do mercado pode ser contrária à desejada.

Um ponto destacado pelo especialista, é que se o governo deseja puxar a cotação para cima, o cenário está a favor dele, já que o aumento das incertezas externas reforça o viés de alta no preço da moeda americana.

Comentando o quadro externo, particularmente o terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão, Barbutti aponta que ainda não é possível saber com maior clareza a extensão dos danos provocados. Mas que se a situação for muito grave é possível que as famílias japonesas venham a resgatar sua poupança. Tal movimento teria impacto sobre os mercados de ativos do mundo todo, incluindo Brasil, onde se sabe que há dinheiro japonês no mercado de títulos e ações.

Eduardo Campos é repórter