Título: Em três meses, IPCA-15 sobe 2,35%
Autor: Bittencourt, Angela
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2011, Especial, p. A16

De São Paulo No primeiro trimestre, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) acumula alta de 2,35%, o equivalente a 52% do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. Essa variação supera os já salgados 2,02% de janeiro a março de 2010, principalmente devido a aumentos mais fortes dos serviços (como aluguel, mensalidades e empregado doméstico) e dos preços administrados (como tarifas públicas). Em 12 meses, o IPCA-15 avança 6,13%, próximo do teto da banda de tolerância do regime de metas, de 6,5%.

Em março, o IPCA-15 subiu 0,6%, menos que o 0,97% de fevereiro, mas ainda assim uma variação significativa. O aumento expressivo dos preços de combustíveis e de tarifas de transporte e a elevação de alguns serviços, como empregado doméstico, mantiveram sob pressão o índice em março, apesar da perda de fôlego dos grupos educação e alimentos e bebidas, diz o economista Fabio Romão, da LCA Consultores.

O indicador, contudo, trouxe algumas notícias mais favoráveis. O aumento de preços foi menos generalizado, com o percentual de itens em alta caindo de 66,4% em fevereiro para 58,6% em março, o mais baixo desde setembro de 2010, como destaca o Banco Fator. Além disso, perderam força os núcleos de inflação, que excluem ou diminuem o peso dos itens mais voláteis, embora sigam em níveis elevados. Com alta de 8,43% em 12 meses, os serviços subiram 0,73% em março, menos que os 2,34% do mês anterior, porque houve uma desaceleração do grupo educação. A alta desse item passou de 5,88% em fevereiro para 1,03% em março, um patamar ainda elevado, segundo Romão. Ele observa que, em março de 2010, educação tinha subido 0,56%. Para ele, essa pressão é um sinal de que o mercado de trabalho aquecido chancela reajustes expressivos, impulsionados também pela inflação elevada em 12 meses, uma das referências para a correção de mensalidades.

As passagens aéreas tiveram alta forte. Depois de cair 11,5% em fevereiro, subiram 29,2%. Também aumentaram bastante as tarifas de metrô, trem e ônibus intermunicipal, o que ajuda a explicar o avanço de 1,11% do grupo de transportes, impulsionado ainda pelos avanços do álcool e da gasolina.

No IPCA-15, os preços de alimentos e bebidas subiram 0,46% em março, abaixo do 0,57% de fevereiro. Para o IPCA deste mês, o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, acredita em aceleração dos alimentos, com o fim da deflação em carnes, arroz e feijão e alta em alguns produtos "in-natura". O IPCA reflete a inflação no mês fechado, enquanto o IPCA-15 mostra a variação de preços entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira do mês de referência.

Já o núcleo calculado pela exclusão de alguns alimentos no domicílio e combustíveis recuou de 1,08% em fevereiro para 0,64% em março. Em 12 meses, porém, a alta é de 6,1%.

Para 2011, Ramos elevou a sua projeção de IPCA de 6% para 6,2%, na esteira da sua revisão do número para o indicador de março, de 0,5% para 0,67%. Além de uma inflação de alimentos mais elevada, ele espera menor ajuda do grupo vestuário e mais pressão em combustíveis. Romão, por sua vez, mantém a previsão de um IPCA de 5,5% em 2011, acreditando que os alimentos vão subir 6% neste ano, bem menos que os 11,4% do ano passado. No primeiro trimestre no IPCA-15, a alta desse grupo foi de 2,26%, abaixo dos 3,03% do mesmo período de 2010.