Título: Mão no bolso e R$ 25 bilhões em receitas
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2010, Política, p. 4

eleições2010

Prestação de contas parcial dos candidatos ao Senado mostra que muitos deles dependem de recursos próprios para fazer o nome engrenar. A arrecadação média é de R$ 111 mil

Os candidatos ao Senado receberam R$ 25,2 milhões em doações e gastaram R$ 19 milhões no primeiro mês de campanha. De acordo com a primeira prestação de contas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a média de receitas obtidas pelos 227 candidatos que entregaram declaração foi de R$ 111 mil. Muitos não esperaram a simpatia de empresários e eleitores e decidiram financiar, do próprio bolso, a campanha, como Blairo Maggi (PR-MT). Se o ex-governador de Mato Grosso ganhar uma cadeira no Senado na eleição deste ano, vai receber em salários apenas cinco anos dos oito previstos do mandato. Blairo investiu R$ 640 mil, dos R$ 745 mil arrecadados até agora, em sua própria candidatura, o equivalente a três anos de subsídio parlamentar.

O melhor doador de campanha do senador Romeu Tuma (PTB-SP) também é o próprio parlamentar. Na prestação de contas do corregedor do Senado, os R$ 500 mil de receita declarados à Justiça Eleitoral saíram do próprio bolso. O primeiro-secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI), agiu como os colegas e não deixou a campanha à mingua. Dos R$ 465 mil arrecadados, R$ 312 mil vieram de aporte do candidato. Mais modestos, mas atentos à saúde financeira do comitê, Rita Camata (PSDB-ES) e José Pimentel (PT-CE) fizeram autodoações. A tucana investiu R$ 20 mil na campanha que tem receita de R$ 175 mil, e o petista é o maior financiador de seu projeto, injetando R$ 30 mil no montante que não ultrapassa R$ 31,5 mil.

Campanha rica, por ora, é a do senador Delcídio Amaral (PT-MS). O parlamentar ultrapassou a marca dos R$ 2 milhões em doação, com R$ 1,45 milhão arrecadados com empresários e outros R$ 600 mil de pessoas físicas. Em São Paulo, uma boa disputa fica por conta dos colegas de chapa Marta Suplicy (PT) e Netinho de Paula (PCdoB). Marta e Netinho lideram as arrecadações no estado. Mas enquanto o pagodeiro ganhou via partido grande parte dos R$ 965 mil, Marta contou com o empresariado. Recebeu cerca de R$ 700 mil de pessoas jurídicas, dos R$ 992 mil arregimentados.

Enquanto muitos candidatos ao Senado entregaram declaração de arrecadação em branco, o ex-governador da Paraíba Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) não tem do que reclamar. Apesar de ter a candidatura indeferida por se enquadrar nos critérios da Ficha Limpa, o comitê financeiro de Lima foi o campeão de arrecadação no estado. Com um honroso quarto lugar no ranking de receita, o tucano obteve R$ 1,2 milhão e ainda se deu ao luxo de gastar mais do que recebeu. As despesas de Cássio Cunha Lima somam mais de R$ 2 milhões. Com muitos zeros a menos, a ex-senadora Heloísa Helena (PSol-AL) inicia a campanha no vermelho. A socialista arrecadou R$ 2.600, mas já fez compromissos de R$ 21.953.

Outros candidatos impedidos pelo Ficha Limpa não tiveram a mesma sorte de Lima na obtenção de recursos. José Carlos Gratz (PSL), barrado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo por ter histórico de condenação, não arrecadou nada no primeiro mês de campanha. O ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda (PMDB), apesar de ter a candidatura liberada pelo TRE do estado, também não comoveu os doadores e entregou a primeira prestação de contas em branco.

DILMA ESTREIA NA INTERNET Dilma Rousseff (PT) já está recebendo doações pela internet. A primeira-dama Marisa Letícia foi a primeira a doar. O valor foi simbólico: R$ 13. Marina Silva, que estreou o site de arrecadação na sexta, já conseguiu quase R$ 12 mil. No caso do tucano José Serra, a ideia foi praticamente sepultada devido à burocracia e aos altos custos do serviço. A legislação não é clara. O comando da campanha decidiu não receber doações pela internet porque entendeu que o custo-benefício é desvantajoso, explica a coordenadora da campanha on-line de Serra, Soninha Francine.

O número R$ 312 mil Quantia que o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) tirou do próprio bolso para investir na campanha

Leia a íntegra da lei que autoriza doações pela internet

Mutirão de ruralistas

Ivan Iunes Igor Silveira De olho na arrecadação de campanha, os coordenadores da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência escalaram a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) para passar o chapéu entre os representes do agronegócio. Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia tem o plano de reforçar consideravelmente o caixa de Serra e montar uma estrutura centralizada de captação de recursos para deputados e senadores da bancada ruralista. A intenção é que a representação do setor nas duas Casas cresça 20% no pleito de outubro.

A estratégia de arrecadação entre os empresários do agronegócio ainda está sendo traçada por Kátia Abreu. Inicialmente, a ideia é enviar uma carta de apresentação solicitando a doação de recursos e um boleto bancário, para facilitar o processo. A senadora estuda arrecadar pelo menos R$ 100 de cada contribuinte. Os potenciais doadores são estimados em 2 milhões de produtores rurais e pecuaristas o Brasil conta com cerca de 5 milhões de pequenos e grandes agricultores e criadores de gado. Vamos pedir R$ 100, R$ 1 mil, pegaremos qualquer quantia desde que a contribuição seja transparente. Não faremos nada que não for republicano, afirma.

Embora a prioridade seja a campanha presidencial, recursos pingarão nas contas de candidatos a deputado e senador, desde que alinhados aos ruralistas.

Os que apoiam a agropecuária terão meu empenho total, afirma Kátia. Oficialmente, a bancada ruralista conta com 82 deputados e 12 senadores, proprietários diretos de terras. A contar os quem têm interesses indiretos na causa, a soma sobe para 120.

Causa Os planos da Frente Parlamentar da Agropecuária incluem ganhar de 24 a 36 novos defensores a partir de outubro. Mesmo com divisões partidárias internas, todos teriam o caixa reforçado pela estratégia agressiva de arrecadação. Não discutimos ideologia. A luta é pela causa e, por isso, não há problema no fato de a bancada ser formada por parlamentares de partidos diferentes, garante o presidente da Frente, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC). Segundo especialistas na articulação parlamentar, os planos de arrecadação de Kátia Abreu mostram uma tendência atual, de entidades patronais se empenharem para elegerem bancadas.

Embora a senadora garanta que não utilizará a estrutura da CNA, a mera presença dela à frente do plano já serviria para girar a máquina da entidade, formada por diversas federações estaduais. Além dos ruralistas, o setor industrial também anunciou que implementaria uma estratégia para aumentar a representatividade no Congresso. O maior problema desse movimento é que a condução do Congresso fica entregue a um número reduzido de corporações e movimentos, diz o presidente do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Antônio Queiroz.