Título: Economistas e Tombini veem descompasso entre oferta e demanda
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2011, Brasil, p. A3

Do Rio e de São Paulo A disposição da presidente da República, Dilma Rousseff, de não dar trégua à inflação, manifestada em entrevista ao Valor, causou boa impressão nos economistas, mas alguns consideram que será difícil não sacrificar o crescimento para cumprir a promessa. "Mostrou que ela está consciente dos problemas a enfrentar com uma inflação ascendente", disse José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos. Regis Bonelli, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que será difícil combinar crescimento e menor inflação. "A menos que uma desaceleração inflacionária mais rápida reduza o poder de compra da população".

A discordância maior de Bonelli e Camargo é sobre o diagnóstico feito pela presidente para a inflação brasileira. Dilma não comunga da avaliação de que há excesso de demanda e de que o país cresce acima do potencial. "Ela dá ênfase ao choque de oferta, a pressão das commodities", destaca Camargo, para quem não seria politicamente correto a presidente dizer que vai gerar recessão para reduzir a inflação.

Bonelli acha que a redução do crescimento é a forma de lidar com a inflação de demanda. "A economia está rodando a mais de 7%. Mesmo quem não acredita em PIB potencial não acredita que a economia possa continuar a crescer a esta taxa", argumenta.

Ontem a noite, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avaliou que a inflação acumulada em doze meses tenderá a permanecer em patamares elevados, com uma tendência declinante ao final do ano, quando vai se deslocar na direção da meta.

Para Tombini, que participou da cerimônia de posse do novo presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, existem ainda elementos na economia brasileira que apontam para um descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda, uma visão um pouco diferente da manifestada pela presidente na entrevista ao Valor. Mas, segundo ele, "há sinais de que esse descompasso tende a recuar com a desaceleração da atividade".

Bonelli teme o risco inflacionário e acha que o BC está atuando de forma pouco conservadora. "Tinha que tornar mais rígida a política monetária. A desaceleração terá que vir para derrubar a inflação", afirmou, indo na direção contrária da presidente, para quem àqueles que veem incompatibilidade em segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável representam o retorno da velha tese "de que é preciso derrubar a economia brasileira".

Camargo vê o BC fazendo uma transição para um regime diferente de política monetária, que não é o de metas de inflação. E considera positivo a presidente da República dar um voto de confiança nessa mudança. Ele espera uma inflação de 5,9% para 2011, mas diz que ela pode ser menor em função da situação internacional com o Japão e levantes árabes, que podem reduzir o crescimento dos países desenvolvidos reduzindo o preço das commodities e gerando menos pressão inflacionária no Brasil.

Para o professor Antônio Comune, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), "a inflação está nas mãos do governo". O risco, diz, é o que não depende da gestão doméstica, como as commodities. (Colaborou João Villaverde)