Título: Temas polêmicos devem ser evitados
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2011, Brasil, p. A4

De Brasília e Washington Responsável pelo "esfriamento" nas relações entre Brasil e Estados Unidos, segundo reconheceu ontem o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, as negociações para conter o programa nuclear iraniano ainda são foco de divergência entre so dois governos, mas não afetam o esforço de aproximação entre os presidentes dos EUA, Barack Obama, e do Brasil, Dilma Rousseff.

Brasil e EUA parecem até estar convergindo em outro tema conflituoso, o golpe em Honduras, e os americanos já admitem apoiar o fim do exílio do ex-presidente hondurenho, Manuel Zelaya, afirmou Patriota, ontem em Brasília.

O assessor do Departamento de Estado para a América Latina, Arturo Valenzuela, buscou evitar o tema, durante entrevista ontem em Washington. "Não estou certo do que os dois presidentes vão discutir", disse. "Talvez haja discussões entre os dois presidentes, mas não estou certo, porque não sei que pontos específicos essa agenda vai gerar."

No caso de Honduras, país suspenso da Organização dos Estados Americanos após o golpe, as negociações para a volta do país ao organismo regional estão sendo realizadas no âmbito da própria OEA e serão, no máximo, comentadas nas reuniões reservadas durante a visita de Obama, de acordo com Patriota. Ele lembrou que a volta de Zelaya ao país, como cidadão, faz parte das recomendações de um grupo de alto nivel da OEA e comentou que há "crescente convergência" entre Brasil e EUA.

No caso do Irã, Patriota não disfarçou as divergências com os EUA, afirmou que o tema poderá fazer parte das conversas entre Dilma e Obama e declarou que a situação do país continua em debate, pelos diplomatas brasileiros, no Conselho de Segurança. Ele lembrou que as negociações com o Irã estão em impasse, e defendeu o acordo de troca de urânio iraniano por urânio enriquecido, patrocinado pelo antecessor, Celso Amorim, no governo Lula. O acordo opôs Brasília e Washington.

"Esfriaram as relações (entre Brasil e EUA), possivelmente, porque houve certa incompreensão do espirito em que aquela iniciativa era feita", avaliou o ministro. O acordo avalizado pelos governos do Brasil e da Turquia, e visto pelos países desenvolvidos como tentativa iraniana de adiar soluções, "talvez tenha sido uma oportunidade perdida", insistiu Patriota. Sobre a questão nuclear iraniana, Valenzuela preferiu destacar a defesa feita por Dilma dos direitos humanos no Irã. Também destacou o fato de que o Brasil segue as leis internacionais, pois está aplicando as sanções depois de aprovadas pela ONU.

"Com relação ao programa nuclear, isso é algo em que o Brasil e os Estados Unidos têm uma conversa contínua", afirmou Valenzuela. "Não sei se outros tópicos serão levantados, mas os dois países dividem preocupações comuns sobre direitos humanos e a construção de instituições democráticas.".

O chanceler brasileiro demonstrou otimismo em relação à possível declaração de apoio de Obama à reivindicação brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.A decisão será tomada apenas pelo próprio Obama, mas as declarações da secretária de Estado, Hillary Clinton, revelando "admiração" pelo papel do Brasil nos esforços pela paz criaram "expectativas favoráveis", disse Patriota.

Questionado sobre se Obama vai declarar apoio ao Brasil para o assento, Valenzuela disse que o presidente americano "é bastante atento para o fato de que a arquitetura das Nações Unidas, que talvez foi apropriada no passado, precisa de algumas mudanças. Nesse diálogo sobre como [o Conselho de Segurança] vai mudar, ele [Obama] está atento que o Brasil tem interesse no tema."