Título: Governo tenta estimular redes de suporte à pesquisa
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2011, Especial, p. F1

De São Paulo

O Brasil progrediu no campo do conhecimento de saúde, aumentou sua capacidade empresarial e de produção farmacêutica) - o país é hoje o nono mercado mundial, com um faturamento total em torno de R$ 32 bilhões em 2009 -, mas está bastante atrasado no desenvolvimento de inovações tecnológicas para acompanhar os novos desafios do cenário de saúde nacional.

O dispêndio nacional em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB por exemplo, é hoje de apenas 1,09%. A constatação foi feita pelo secretário de ciência, tecnologia e insumos estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, durante sua apresentação sobre "A perspectiva do complexo industrial da saúde", no seminário organizado pelo Valor. Ele disse, porém, que não se trata de um quadro a lamentar. "A situação já foi bem pior - antes, o investimento em P&D na área de saúde era de 0,7% do PIB."

Segundo Gadelha, no entanto, vários indicadores mostram o esforço brasileiro para reverter esse quadro de dicotomia entre evolução da ciência e desenvolvimento econômico e social. Por exemplo: a participação de artigos brasileiros publicados em periódicos científicos indexados pela instituição de gerenciamento Thomson/ISI, em torno de 2,7% do total, é praticamente o dobro da participação brasileira no PIB mundial. O número de doutores cresceu 20% nos últimos anos, a participação da saúde nos grupos de pesquisa é atualmente de 17,4% e o país continua na busca para consolidar seus investimentos em pesquisa e inovação.

Nos dois últimos anos, informa Gadelha, o total investido em P&D&I atingiu cerca de R$ 2 bilhões, sendo 68% dos recursos provenientes de parceiros. No dia 15, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um financiamento de R$ 277,6 milhões para projetos de inovação no setor farmacêutico. São quatro projetos que têm como objetivo desenvolvimento de novos produtos, contribuindo para a expansão da oferta nacional de medicamentos de maior valor agregado e permitindo aumentar a capacitação tecnológica nacional, inclusive no segmento da biotecnologia. "Ou seja, no esforço nacional de construir redes de suporte às atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação o Brasil não parte de um deserto", afirma.

Mas, se evolui bem no campo de conhecimento, o Brasil enfrenta ainda, segundo Gadelha, o desafio de transformar essa capacidade em produtos de valor agregado. A preocupação maior é com o déficit comercial, que cresceu mais de 50% de 2009 para 2010, fechando no ano passado com saldo negativo de US$ 10 bilhões. A indústria farmacêutica respondeu por 64% de todo o déficit em saúde, incluindo hemoderivados. Uma das alternativas para frear esse processo de corrosão são os programas de assistência farmacêutica e compras governamentais.

Os gastos do Brasil com medicamentos crescem aceleradamente, indicam dados oficiais. Passaram de R$ 7,5 bilhões em 2009 para R$ 10,1 bilhões em 2010, e devem ficar em R$ 9,8 bilhões neste ano. Os estímulos à pesquisa e inovação e uma política que beneficie investimentos, como a dispensa dos processos licitatórios públicos, previstos na Lei 8.666, devem contribuir para fortalecer o setor.