Título: Proteção à indústria acaba até com a casa da Barbie
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2011, Brasil, p. A5

De Buenos Aires

Os pais de Helena Azevedo, uma brasileirinha de seis anos que mora no litoral de São Paulo, têm prometido a ela uma visita à "casa da Barbie" na viagem que pretendem fazer a Buenos Aires nas próximas férias de julho. Trata-se de uma loja de 650 metros, no bairro de Palermo Botânico, em que tudo é cor de rosa: roupinhas, salão de beleza infantil, cafeteria, salão de festas e até o Fusca antigo em frente ao estabelecimento.

Se nada mudar, porém, Helena certamente se frustrará nas férias. Alegando irregularidades tributárias - mais precisamente a apresentação incorreta de 39 certificados de origem de seus brinquedos -, a multinacional americana Mattel foi retirada pela Afip (equivalente à Receita Federal) do registro de exportadores e importadores da Argentina. Com isso, não pode mais trazer do exterior nenhum dos seus conhecidos brinquedos, como carrinhos da série Hot Wheels, bonecos do Backyardigans e as bonecas Barbie e Polly.

"O estoque dura só mais alguns dias", afirmou uma funcionária da Barbie Store. Apesar da justificativa do governo, a medida foi interpretada como uma forma de proteger a indústria local. Segundo dados da própria Afip, entre 2005 e 2010, a Mattel fez importações anuais de US$ 7,4 milhões, em média.

Esse é um dos casos em que a avalanche de barreiras criou distorções sentidas no dia a dia dos consumidores. Na semana passada, a associação de donos de drogarias se queixou da falta de seringas. As importações estão sujeitas a licenças não automáticas, mas a produção nacional atende 40% da demanda e teme-se que a medida afete a saúde pública.

O Ministério da Indústria também impôs restrições à entrada de automóveis de luxo, fabricados fora do Mercosul. Importadores ouviram a determinação de que, para cada dólar de carros trazidos do exterior, terão que exportar o mesmo valor ou investir um dólar na indústria nacional. (DR)