Título: Cartão Elo une BB, Caixa e Bradesco
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2010, Economia, p. B14

SISTEMA FINANCEIRO

Três das maiores instituições do país se juntam para competir com a Visa e a Mastercard. E compartilharão caixas eletrônicos

Disposto a levar adiante o processo de intervenção no mercado de cartões de crédito, para ampliar a concorrência e favorecer as classes C e D, que estão consumindo tudo o que podem, o governo botou os bancos públicos em ação às vésperas das eleições. A Caixa Econômica Federal se unirá ao Banco do Brasil e ao Bradesco no processo de fortalecimento de uma bandeira nacional, a Elo, que concorrerá com as multinacionais Visa e Mastercard. O acordo entre os três bancos foi assinado ontem em São Paulo e ficou acertado que o cartão Elo será oficialmente lançado em outubro.

A meta é investir em um público estimado em 30 milhões de pessoas, mais vulneráveis aos abusos cometidos pelas tradicionais administradoras. O governo quer derrubar as taxas de juros e as tarifas, alvo de constantes reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. A Caixa também participará do projeto de compartilhamento de terminais eletrônicos, processo já em andamento entre o BB e o Bradesco.

Segundo o vice-presidente de Cartões, Novos Negócios e Varejo do BB, Paulo Rogério Caffarelli, com a entrada da Caixa na sociedade do cartão Elo, cada uma das instituições deterá 33% da empresa que administrará o novo produto. O diferencial do Elo, que terá as funções de débito e de crédito, é que ele só poderá ser usado no Brasil. Também funcionará como cartão pré-pago, com crédito já determinado, como os vales-refeições dados pelas empresas a seus funcionários, os diversos tipos de vales-presentes e ainda para recarga de celular. Assim como o BB e o Bradesco, a Caixa será também um banco emissor do novo cartão.

Já o compartilhamento dos caixas eletrônicos dos três bancos deve começar dentro de 30 dias. Como a Caixa já integrou a sua rede com a do BB, que possui alguns terminais compartilhados com o Bradesco, a avaliação das três instituições é de que não haverá grandes problemas para unificar as estruturas. Para Caffarelli, o compartilhamento das estruturas de autoatendimento é hoje uma necessidade dos bancos.

Cada instituição gasta uma fortuna para instalar e manter seus ATMs e, mesmo assim, nem sempre conseguem estar onde o cliente precisa, constatou. Para ele, com a redução da taxa de juros, as instituições precisam buscar, cada vez mais, a eficiência operacional. O compartilhamento de caixas situados fora das agências é um dos itens envolvidos na reestruturação e na redução de custos.

Redecard se associa ao Sicredi A Redecard firmou parceria com a administradora de cartões Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) para realizar a captura, o roteamento, a transmissão e o processamento das operações de crédito e débito da bandeira, a partir do fim do segundo semestre de 2010. O Sicredi é constituído por 128 cooperativas, 12 mil colaboradoras e atua em 10 estados no país, com mais força nas regiões Sul e Centro-Oeste. Conforme comunicado ao mercado, o Sicredi terminou a primeira metade do ano administrando ativos totais de aproximadamente R$ 19 bilhões. Com o acordo, a Redecard permitirá que os cerca 1,6 milhão de clientes da Sicredi utilizem a rede da empresa, que passará a ter 20 bandeiras em seu portfólio.

Parceria na África

O Banco do Brasil deu ontem mais um passo rumo à internacionalização. Depois de adquirir o Banco da Patagônia, na Argentina, a instituição pública parte agora em direção à África. Com o Bradesco e o Banco Espírito Santo (BES), de Portugal um claro sinal do interesse do governo Lula de aproximação com empresas daquele país , assinou ontem memorando de entendimentos para uma parceria no continente africano.

A intenção, em um primeiro momento, é consolidar as atuais operações do BES na África em uma holding financeira, a BES África, que terá os três bancos como principais acionistas. A holding coordenará futuros investimentos envolvendo a compra de participações em bancos africanos, bem como o estabelecimento de operações dos próprios acionistas no continente.

O vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado do BB, Alan Simões Toledo, disse que os parceiros têm os próximos 90 dias para detalhar a operação. É nesse prazo, por exemplo, que serão definidos o nome da instituição que atuará na África que pode ser BES, devido à presença marcante portuguesa no continente por conta da colonização e o preço a pagar pela participação acionária na holding.

Segundo Toledo, o BB quer estar onde os brasileiros e as empresas brasileiras estão. A despeito de estarmos indo para a África, continuamos interessados em ampliar a nossa presença na América Latina, e nos Estados Unidos, disse. Ele contou que a aquisição de um banco regional nos Estados Unidos sairá até o fim do ano, mas ressaltou que a parceria para atuar na África saiu antes. Com seus parceiros, o BB se focará no atendimento às empresas brasileiras que atuam em países africanos, como a Petrobras, a Vale, a Camargo Correa, a Odebrecht e a Marfrig, além de atuar no varejo, ampliando o acesso dos serviços bancários à população local.

A bancarização na África, em que pese o forte crescimento econômicos dos últimos anos, ainda é muito baixa. Em países como Moçambique e Angola, o acesso ao sistema financeiro é inferior a 15%. Daí a importância da parceria com o BES, que é o segundo maior banco português, com ativos totais de US$ 108 bilhões e uma rede de 734 agências. O BES está na África há 100 anos e, além da associações com bancos africanos, tem agências próprias em Angola (34), Cabo verde (1), Líbia (24) e Argélia (1). (VC)

O número R$ 37,8 milhões Lucro do Banco Patagônia, comprado recentemente pelo BB, no segundo trimestre deste ano

Exigência de responsável

Os bancos terão de nomear um diretor responsável pelo fornecimento de todas as informações previstas em lei. A determinação foi baixada ontem pelo Banco Central por meio da circular n° 3.504. A autoridade monetária deixou claro, porém, que a indicação desse executivo não isenta de responsabilidades os diretores ligados às áreas em que são produzidas as informações. Também não impede que o diretor responsável desempenhe outras funções no banco, menos as relativas à administração de recursos de terceiros. O BC determinou ainda que as documentações referentes às informações prestadas devem ser mantidas à sua disposição pelo prazo de cinco anos a contar da data do seu fornecimento.

Na avaliação do mercado, ao exigir a nomeação de um diretor responsável por prestar informação, o BC deixou claro o seu desejo de aumentar o poder de cobrança sobre os bancos, o que resultará em melhor supervisão do sistema financeiro. Esse diretor estará sujeito a processo administrativo e às sanções previstas na legislação, caso as informações do banco não sejam prestadas no devido tempo ou com erros.

A circular editada ontem também complementou decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de julho permitindo medidas mais duras contra erros e atrasos no envio de informações. Até então, a multa cobrada pelo BC era de insignificantes R$ 150 por esse tipo de problema. A partir de agora, a instituição poderá ser mais dura nas cobranças das informações, além de abrir processos administrativos.