Título: Grupo de Marina monta estratégia para tomar comando do PV
Autor: Chiaretti, Daniela; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2011, Política, p. A9
Há um embate político dentro do Partido Verde. As divergências entre lideranças ficaram expostas na reunião da Executiva Nacional na quinta-feira, quando o grupo do presidente José Luiz Penna derrotou o da ex-senadora Marina Silva, prorrogando seu mandato por mais um ano - ele ocupa o posto desde 1999 - e adiando o processo de renovação da legenda. Marina não pretende sair do partido e nem criar outra sigla. A ideia é aumentar a participação no comando do PV, mobilizar a base e pressionar por mudanças rápidas.
Até sexta-feira, os aliados da ex-senadora devem estruturar as propostas que defenderão para mudar o PV. Amanhã, integrantes do partido que lutam pela renovação de programa e quadros ainda este ano se reúnem em São Paulo para traçar sua estratégia. A presença de Marina é praticamente certa, mas depende de ajustes de uma agenda prévia. Estarão reunidos o vice-presidente do PV, deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), o ex-deputado Fernando Gabeira, a deputada estadual Aspasia Camargo (RJ) e os presidentes dos diretórios de São Paulo, Maurício Brusadin e o de Pernambuco, Sérgio Xavier, além de lideranças de outras regiões.
Um dos responsáveis por levar Marina para o PV, Alfredo Sirkis reclama da falta de democracia dentro da legenda e da polarização que ficou evidente na reunião da Executiva quando Penna e o deputado federal Sarney Filho (MA) propuseram o adiamento da renovação no comando do PV. "Abriu-se um confronto político sem prazo para terminar", diz ele. "Lutamos por uma transição democrática no PV, mas a burocracia partidária não quer se abrir."
A ideia inicial do grupo do presidente era prorrogar o mandato de Penna por mais dois anos e adiar a convenção do partido para 2012. O prazo proposto por Sirkis era junho deste ano. A solução encontrada foi promover as mudanças em "até um ano". Com esta brecha, o grupo ao redor de Marina Silva tenta unificar o discurso e encontrar uma estratégia que conquiste mais adeptos na base partidária. A meta é ter mais espaço no comando do PV e "fazer com que o partido se alinhe com o discurso da campanha presidencial, de encontrar outro jeito de fazer política, regido pela ética e pela transparência", diz uma liderança.
Apesar das divergências, o grupo evita o êxodo. "No limite, a criação de outro partido é uma alternativa, mas não é o nosso desejo inicial", diz um dos envolvidos no processo. "O desejo é que o PV se renove", continua. "Criar outro partido não é necessariamente ruim. Mas nesta estrutura política, sem reforma eleitoral, ajuda a alimentar uma lógica de pequenos partidos que não têm força."
O presidente do diretório de Pernambuco e um dos fundadores do PV, Sérgio Xavier, espera que as divergências sejam superadas o mais rápido possível. "Estamos buscando o entendimento para não perder o ritmo que Marina trouxe ao PV. O ideal é que não se demore tanto nesse processo de renovação", defende. Segundo ele, o PV precisa abrir-se para que Marina se torne "visível à sociedade". "Ela precisa ter espaço para continuar debatendo temas, envolvendo pessoas. O projeto do PV não pode se esgotar em uma eleição. É um projeto de país", diz.
A Fundação Verde Herbert Daniel, entidade privada ligada ao PV, propôs uma agenda, aprovada na reunião, para que se promovam seminários com propostas a ser discutidas nos Estados e aprovadas na futura convenção. Esta discussão deverá abranger o programa e a estrutura do partido - como o PV vai funcionar, como irá eleger os membros da Executiva, e assim por diante. Segundo Maurício Brusadin, presidente do diretório estadual de SP, os presidentes dos diretórios estaduais foram nomeados pela Executiva nacional, sem eleição. "A Executiva tem um poder supremo no partido", diz ele, há 18 anos no PV. "Há uma demanda histórica por democracia interna, não é um desejo só do grupo que veio com Marina", comenta.