Título: Camargo só retoma obra após punição de vândalos
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2011, Empresas, p. B15
De Porto Velho
Principal executivo do consórcio administrador da usina de Jirau, o presidente da Energia Sustentável, Victor Paranhos, afirmou ontem que a obra no rio Madeira só será retomada pela construtora Camargo Corrêa após a identificação e prisão dos vândalos envolvidos nos episódios de violência ocorridos na semana passada.
"Não dá para voltar sem antes descobrir quem é o cabeça. Isso é o que diz a Camargo Corrêa", afirmou o executivo, que está na capital rondoniense, ao Valor. "A Camargo está receosa porque, quando tentamos retomar a obra com a Enesa (sexta-feira passada), queimaram as coisas novamente. Eles querem a presença do Estado lá."
Os termos e condições para garantir a retomada das obras de Jirau foram transmitidas por Paranhos ao governador Confúcio Moura (PMDB) e ao prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, em reunião com a cúpula da segurança pública na capital. "É fundamental esclarecer, investigar e resolver esse caso", apelou Paranhos. "Ou mata isso pela raiz ou não adianta negociar salários se tem alguém que não tem compromissos", disse, em referência ao processo de negociação salarial iniciado pelo sindicatos dos trabalhadores.
A obra de Jirau está paralisada há uma semana. Por efeito dominó, a usina de Santo Antônio, comandada pela Odebrecht, também suspendeu as atividades desde sexta-feira passada. A Força Nacional controla o acesso de pessoas ao canteiro de obras e viaturas das polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal patrulham a região para evitar aglomerações e novos tumultos.
O presidente da Energia Sustentável afirmou que o incêndio "foi encomendado", mas ainda não é possível saber quem ordenou a baderna. "Meu pessoal da obra e a PM estão vendo isso. Eles fecharam a BR, queimaram alojamentos, coisa muito semelhante ao que já fizeram em tumultos organizados em São Paulo", disse o executivo. Ele referia-se a conflitos urbanos registrados em favelas da capital paulista em anos anteriores.
Victor Paranhos informou que as demais empresas responsáveis pelas obras começaram a voltar aos poucos ao canteiro de Jirau. "Recomeçamos a montagem do vertedouro com a Enesa, a Temag e a Leme, por exemplo. Só a Camargo não voltou porque também foi a mais atingida pelos incidentes", afirmou. A construtora líder da obra teve os dormitórios e refeitórios incendiados por vândalos na semana passada. "Mas ainda estamos negociando essa volta com a Camargo."
O executivo afirmou que a Camargo Corrêa teria condições de mobilizar um contingente expressivo de funcionários para retomar a reconstrução da infra-estrutura em ritmo acelerado. "Eles têm 3 mil pessoas alojadas em Nova Mutum-Paraná e em outras localidades", disse. Em Jaci-Paraná, a 10 quilômetros da obra, há um número grande de operários das empresas terceirizadas pelo consórcio construtor.
Paranhos deve visitar a obra da usina ainda hoje para avaliar os estragos provocados pela rebelião da semana passada. Na sexta-feira, ele volta ao Rio para novas reuniões com representantes das empresas do consórcio. (MZ)