Título: Brasil rejeitará compra de títulos da dívida de Portugal
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2011, Brasil, p. A6

O governo brasileiro deve rejeitar novo pedido do governo de Portugal para que o Brasil compre títulos da dívida do Tesouro português, como parte do esforço para enfrentar a crise econômica naquele país. Dilma manteve a visita que fará na próxima semana a Coimbra e Lisboa, apesar da crise em Portugal, que levou o primeiro-ministro José Sócrates a renunciar, depois que seus apelos pela aprovação de medidas de ajuste na economia do país foram rejeitados. Entre os pedidos portugueses em análise pelo governo está a compra de até 10% da estatal EDP pela Eletrobras. Os pedidos portugueses foram levados ao governo brasileiro no ano passado, quando o ministro de Finanças de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, teve encontro de quase duas horas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na saída, o ministro português confirmou o interesse na venda de títulos da dívida aos brasileiros.

O ministério estuda a medida, mas é praticamente nula a possibilidade de que Dilma venha a anunciá-la em Portugal. Segundo um auxiliar da presidente, a avaliação do governo é que cabe à Alemanha, como principal economia da zona do euro, encontrar uma forma de evitar o colapso financeiro dos países europeus em crise.

Autoridades portuguesas têm lembrado os laços históricos com o Brasil e os investimentos entre os dois países para pedir ajuda do Palácio do Planalto em operações que poderiam ampliar a fatia brasileira na economia portuguesa. O Brasil já é o quarto maior investidor estrangeiro em Portugal. Na visita, Dilma poderá abordar projetos em estudo por empresas brasileiras, como a instalação, no território português, de uma fábrica de "plástico verde", baseado em etanol, para exploração de matéria-prima importada de Angola.

Os portugueses falam em negócios maiores, porém, como a possível compra, pela Petrobras, de 25% da portuguesa Galp. O negócio chegou a ser discutido no início do ano, mas aparentemente foi deixado de lado, e não há executivos graduados da estatal brasileira na comitiva de Dilma. A compra de parte da EDP pela Eletrobras representaria desembolso da ordem de US$ 500 milhões, mas é baixo o interesse brasileiro no negócio.

Dilma vai a Portugal para acompanhar a homenagem ao seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que receberá o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra. Ela terá um encontro com o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, e com o presidente da Assembleia, Jaime Gama. Apesar da renúncia, Sócrates também terá um encontro com Dilma, já que é responsável pela transição até a eleição de um novo gabinete.

Por coincidência, o próximo país europeu a ser visitado por Dilma é a Grécia, outra economia em crise. A visita ainda não está confirmada, mas a presidente cogita fazer uma escala em Atenas na viagem à China, prevista para duas semanas após a ida a Portugal.

Na China, Dilma fará uma visita de Estado, participará da reunião dos países emergentes com presença de Rússia, Índia, China e África do Sul. Ela participará também do Fórum de Boao, versão asiática do Fórum Economico Mundial realizado anualmente em Davos.