Título: DEM vê mobilização do Planalto a favor do PSD
Autor: Ulhôa, Raquel; Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2011, Política, p. A11
A executiva nacional do Democratas formalizou ontem a dissolução da Comissão Provisória Estadual do partido em São Paulo, que era presidida pelo prefeito Gilberto Kassab até sua decisão de sair para lançar o Partido Social Democrático (PSD). A prioridade do comando demista agora é recompor o partido em São Paulo. Ao mesmo tempo, tenta evitar que mais filiados troquem o DEM pelo PSD. O comando do DEM identifica no Palácio do Planalto um movimento para lideranças políticas a se filiarem ao PSD, não só do DEM - como a deputada Nice Lobão (MA), mulher do ministro Edison Lobão -, mas também de outros partidos, como o governador do Amazonas, Omar Aziz (PMN), e o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB). "É uma luta desigual a minha", afirmou o novo presidente do partido, senador José Agripino (RN), que ontem presidiu a primeira reunião da executiva nacional. Para dirigentes demistas, o objetivo ao fortalecer o PSD seria "criar um clima para atrair outros por gravidade", enfraquecendo a oposição.
Agripino tem conversado com lideranças do partido que enfrentam divergências locais, para tentar conter insatisfações. Tem encontrado algumas dificuldades, como é o caso do deputado Vilmar Rocha (GO), que tem diferenças com o presidente do DEM no Estado, deputado Ronaldo Caiado. Rocha não participou da reunião da Executiva. Mas Agripino comemorou a participação de cinco filiados citados entre os que acompanhariam Kassab no novo partido, como Nice Lobão e a senadora Kátia Abreu (TO).
O dirigente comunicou oficialmente à executiva a decisão do ex-deputado Indio da Costa (RJ) de deixar a sigla - o que abrirá uma das vagas de vice-presidente do partido. Ex-candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB) à Presidência da República, Indio deve ir para o PSD.
A executiva nacional quer recompor a comissão estadual de São Paulo até quinta-feira. Deve ganhar espaço no partido o deputado federal Rodrigo Garcia, aliado histórico de Kassab que anunciou a intenção de ficar no DEM.
Em São Paulo, Kassab disse que o ingresso de Indio ao PSD é muito bem vindo. O prefeito, no entanto, afirmou que não fez nenhum convite durante o encontro de quarta-feira entre os dois.
Questionado sobre a articulação do PSDB e do DEM para evitar uma debandada em seus quadros, Kassab disse que não vê problema na iniciativa. "Acho que na democracia, cada um luta por suas ideias e valores." Além disso, o prefeito declarou que não conversou com a bancada estadual do DEM sobre a troca de partidos.
Até o momento, o PSD conta com apenas seis deputados federais da Bahia e cinco de São Paulo. Em tom de brincadeira, ele se disse animado e que espera mais do que 11 adesões.
Em sua primeira manifestação mais incisiva contra a ex-legenda, o prefeito disse, após dar palestra sobre Mobilidade Urbana, na Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, em São Paulo, que hoje está sem a "camisa de força" do DEM. Kassab tem dito que a nova legenda terá uma postura "independente" e que estará ao lado do governo federal nos projetos que considerar corretos e contra nos que não julgar pertinentes.
"Todos sabem que do início ao fim da campanha [presidencial] eu apoiei o José Serra [PSDB]. Eu perdi as eleições, e portanto não me sinto à vontade para ser governo, mesmo nesse novo partido. Mas poderei, agora sem a camisa de força do Democratas, me manifestar favoravelmente em momentos que eu julgue adequada e correta a postura do governo", afirmou.
Ele ressaltou durante a palestra que "não acredita" em uma legenda que torça pelo insucesso do governo federal: "Não acredito em um partido que torce para o insucesso do governo. Não é possível que não esteja de acordo com nada. Tem que fiscalizar, mas dar governabilidade."