Título: Cauteloso, estrangeiro reduz participação na dívida federal
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2011, Finanças, p. C2

A participação dos investidores estrangeiros no estoque da dívida em títulos federais caiu em fevereiro, no primeiro recuo desde novembro de 2010. A fatia detida pelos chamados não-residentes passou de 11,8% do total em janeiro para 11,4%. O montante também retrocedeu, de R$ 182,43 bilhões para R$ 180,68 bilhões no período, mostrando que o movimento se deve não só à ampliação do estoque total da dívida, mas também à redução na disposição desses investidores em adquirirem os papéis do Tesouro. Diante desse encolhimento, o Tesouro Nacional observa que há maior aversão ao risco no mundo e que uma postura mais conservadora dos investidores dificulta a previsão sobre a retomada do apetite pelos títulos brasileiros.

"Não temos previsão para quando observaremos a retomada de tendência de aumento da participação dos estrangeiros. Alguns fatores como a instabilidade no Oriente Médio e no norte da África e incertezas quanto a aspectos fiscais na Europa contribuem para que investidores internacionais estejam um pouco mais cautelosos", disse o coordenador-geral das Operações da Dívida, Fernando Garrido. Ele vinculou o interesse dos não-residentes pelos papéis do Tesouro à capacidade de recuperação da economia americana. "Com a eventual retomada do crescimento nos Estados Unidos, a participação de estrangeiro deverá retomar a trajetória de elevação", afirmou.

Nas cogitações sobre as consequências do desastre no Japão sobre a economia mundial e sobre os níveis de aversão ao risco, Garrido disse que o Tesouro não observou movimentação de saída de aplicadores japoneses das operações com os títulos brasileiros. Para ele, se houver algum movimento de repatriação, será pequeno. "O Banco Central do Japão tem tomado medidas para garantir liquidez para os investimentos japoneses, portanto, o impacto em nossos títulos deve ser pequeno", analisou.

Em fevereiro, o estoque da dívida pública em títulos federais aumentou 2,8% na comparação com janeiro. A elevação decorreu da emissão líquida de R$ 27,25 bilhões - dos quais R$ 5,2 bilhões destinados ao BNDES - e da apropriação de juros no montante de R$ 16,24 bilhões.

Ao apresentar esses dados, Garrido informou que a emissão de R$ 55 bilhões em títulos federais a ser destinada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2011 não começou a ser feita. Embora o lançamento dos títulos ainda esteja pendente de um acerto entre o banco e o Ministério da Fazenda, não está descartada uma emissão escalonada ao longo do ano direcionada a atender às necessidades do BNDES de reforço dos recursos destinados às linhas de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).

A emissão de R$ 5,2 bilhões em títulos destinados ao BNDES refere-se a um complemento dos R$ 30 bilhões em recursos previstos em medida provisória MP 505, editada em setembro do ano passado. Em relação à essa MP, o Tesouro havia emitido R$ 24,7 bilhões e agora fez o lançamento restante. Com essa operação, completa-se o montante de R$ 210 bilhões de recursos repassados ao BNDES em 2009 e em 2010, por meio da ampliação do estoque da dívida pública.