Título: Por reconstrução, Japão pode subir imposto
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Fonte: Valor Econômico, 29/03/2011, Internacional, p. A11

O Japão deve aumentar os impostos para financiar a reconstrução das áreas afetadas pelo terremoto e tsunami que atingiram o país, segundo duas autoridades japonesas. Eles disseram que é inevitável uma medidas assim. Dois terços dos japoneses concordam que isso será necessário.

"Não podemos evitar um aumento de impostos, já que o terremoto pode piorar uma já perigosa situação fiscal", disse Ikkou Nakatsuka, vice-presidente da Comissão de Impostos do Partido Democrata do Japão (PDJ), do premiê Naoto Kan. O vice-ministro das Finanças japonês, Fumihiko Igarashi, disse ontem que o governo deve deixar de lado seu plano de abaixar impostos de pessoas jurídicas. O maior lobby empresarial do país disse apoiar a medida.

O Japão corre o risco de enfrentar uma crise fiscal séria, já que a dívida pública já está em quase duas vezes o tamanho da economia do país. O japão tem um PIB de cerca de US$ 5 trilhões.

Num quadro desses, 67,5% da população apoia a instituição d novos impostos para financiar a reconstrução, segundo uma pesquisa divulgada no fim de semana para agência de notícias Kyodo.

Nakatsuka sugeriu que o governo pode optar por um aumento de dois pontos percentuais no imposto sobre o consumo, que hoje é de 5%. "Teremos a compreensão do público, se usarmos isso para a reconstrução", disse ele.

O governo japonês aumentou o imposto de consumo pela última vez em 1997, quando ele era de 3%. Na ocasião, o Partido Liberal Democrático estava no poder. Depois de adotada a medida, o país entrou em recessão e o PLD perdeu as eleições para o PDJ.

Analistas dizem que um dos motivos de o PDJ ter perdido a maioria na Câmara Alta do Parlamento no ano passado teria sido o premiê Kan ter cogitado um aumento do imposto de consumo.

Shinichiro Furumoto, membro do PDJ e diretor-geral da Comissão Fiscal do partido, disse que o aumento do imposto de consumo seria uma opção boa, pois ele é o "único que distribui o ônus igualitariamente entre os cidadãos, dos mais novos aos mais velhos, dos homens às mulheres".

Para as empresas, deve ficar para depois a redução das taxas que incidem sobre as pessoas jurídicas. O imposto corporativo em Tóquio chega a 40,69%, comparado com 28% no Reino Unido e com 25% na China, segundo o governo.

"O aumento de impostos certamente estará em discussão, considerando-se o estado da dívida pública", disse Masamichi Adachi, economista do JPMorgan Chase.

O governo estima que a reconstrução do nordeste do país, área mais afetada pelo terremoto de 11 de março, pode custar até US$ 306 bilhões. A magnitude do tremor, 9 pontos na escala Richter, e o tsunami criaram um desastre humanitário que deixou 27 mil pessoas mortas ou desaparecidas.

O partido do governo e a oposição concordaram em cortar 14% dos salários dos parlamentares, o que deve economizar US$ 25 milhões ao ano.

(Com agências internacionais)