Título: Preços dos metais avançam no trimestre
Autor: Dezem, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2011, Empresa, p. B12

De São Paulo Os primeiros três meses do ano representaram para as commodities metálicas uma alta acentuada dos preços nos mercados internacionais. No decorrer do trimestre, no entanto, a escalada foi limitada por eventos externos, como o terremoto seguido de tsunami do Japão, que elevou o sentimento de risco.

Segundo analistas consultados pelo Valor, o avanço dos metais, em geral, tem sido sustentado pela persistente demanda na China, além da recuperação de países combalidos pela crise financeira internacional, como os EUA e algumas nações europeias. "Tudo se resume à China, que continua demandando muito metal, e aos sinais de recuperação da economia global", resume o analista chefe da corretora SLW, Pedro Galdi.

"O cobre - um dos principais metais de base -, por exemplo, tem refletido o bom desempenho do setor de cabos na Europa", afirma o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não-Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), Rômulo Giambastiani. A liquidez global, diante dos baixos juros internacionais, também se soma a esse cenário, atraindo os investidores para as commodities, que consideradas ativos físicos com valor intrínseco.

E as cotações evidenciam essas relações favoráveis para os produtores de commodities. Considerando o preço médio mensal, o cobre teve uma alta de quase 5% no acumulado do ano até março e de 27% em doze meses. O preço médio mensal do alumínio, por sua vez, apresentou crescimento de mais de 9% no ano e de 15% em doze meses, atingindo US$ 2,585 mil por tonelada métrica. Mas a maior alta foi registrada no preço do estanho, que avançou 74% frente à março do ano passado, e 17% de janeiro a março de 2011.

Em março, por outro lado, os metais começaram a apresentar uma mudança de rumo. Ontem, o preço do cobre fechou em US$ 9,4 mil por tonelada métrica, enquanto em 4 de janeiro marcava US$ 9,71 mil por tonelada métrica. A cotação de ontem, comparada com a do último dia de fevereiro, marcou recuo de 4,4%. O níquel, por sua vez, apresentou o maior declínio no mês, de 9%.

Analistas dizem que essa inversão de tendência está relacionada com os efeitos do terremoto do Japão. Os temores de que a tragédia na ilha possa afetar a recuperação econômica global afetou a percepção de curto prazo dos investidores. "A construção civil sofre, a indústria automobilística sofre e, logo depois (do terremoto), alguns agentes migraram das commodities ou tiveram a necessidade de fazer caixa", explica Giambastian.

Os picos do petróleo, estimulados pela crise política em países do Oriente Médio e do norte da África, são mais um fator que provoca dúvidas sobre a resistência das economias em dificuldades.

O cobre, particularmente, vem atravessando um momento que tem chamado a atenção do mercado. Alguns analistas já alertam para uma elevação dos estoques do metal nos últimos dias, o que pode significar que sua oferta está maior do que a demanda. Um relatório do Standard Bank apontou para a alavancagem dos investidores chineses que se financiam por meio do estoque de cobre com juros baixos no exterior. Dado que abril é sazonalmente um mês de forte procura, o período será um indicador para o mercado da situação do produto internacionalmente.

Mas esse movimento de queda dos preços verificado no último mês não deve ditar, em geral, o rumo dos metais ao longo do ano. Os analistas continuam acreditando que a evolução dos preços no longo prazo é mais sustentada pela continuidade do crescimento da demanda, principalmente dos países emergentes. Além disso, há expectativas de que o Japão terá que passar por uma reconstrução que exigirá commodities metálicas. Para o minério de ferro, por exemplo, cujos preços também perderam o fôlego, a tendência, segundo o analista da Socopa, Marcelo Varejão, é de uma recuperação, já que a relação de oferta e demanda permanece favorável para as mineradoras. "Não há nenhum grande projeto de oferta para entrar no mercado nos próximos dois anos", acrescenta ele.