Título: Questão trabalhista voltará a ser discutida amanhã
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2011, Empresas, p. B1

De Brasília

Governo, empresários e sindicalistas admitiram ontem ser necessária uma força tarefa para impedir novas paralisações nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Como adiantou o Valor na semana passada, 80 mil trabalhadores cruzaram os braços em Jirau, Santo Antonio, Pecém (CE) e Suape (PE) protestando por melhores condições de trabalho. Ficou acertada a formação de uma comissão tripartite para analisar as principais obras do PAC e uma reunião específica para tratar da crise em Jirau e Santo Antonio. As duas reuniões acontecem amanhã, no Palácio do Planalto, coordenadas pelo secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho.

Houve discordância, contudo, sobre as razões que provocaram as revoltas nas obras. Representantes das centrais sindicais insistem que há desrespeito aos direitos trabalhistas e que, em alguns casos, há violação dos direitos humanos. "O governo reconheceu que não se preparou para enfrentar situações dessa natureza e não avaliou os impactos das obras nos pequenos municípios", declarou o presidente da CUT, Artur Henrique.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safedy Simão, rebateu as acusações, declarando que, no geral, as condições de trabalho são boas. Ele aponta, dentre outros fatores, uma disputa sindical travada entre a Força Sindical e a CUT, especialmente em Rondônia, onde estão as obras de Santo Antonio e Jirau. "Eles ficam disputando os trabalhadores, oferecendo ganhos melhores. Mas quando eu disse isso na reunião, quase me lincharam", reclamou Simão.

O chefe da secretaria-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, reconheceu que é importante o governo antecipar-se para impedir que problemas como esses ocorram em Belo Monte, hidrelétrica que, por enquanto, está imune às crises que estouraram nas obras do PAC. Mas ele também responsabilizou a empresa Camargo Corrêa, responsável pelo consórcio de Jirau, pelos tumultos ocorridos na semana passada.

Para Gilberto, a antecipação no cronograma de entrega da obra - de janeiro de 2013 para março de 2012 - levou a empresa a contratar mais trabalhadores, o que pode ter aumentado a tensão no local. "De fato, essa antecipação no cronograma aumentou a concentração dos trabalhadores. Eu fiz a ponderação se não era o caso de rever esta decisão para diminuir o grau de tensão", disse o ministro.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, lembrou que os trabalhadores já obtiveram algumas vitórias na Justiça, como as conquistadas em Suape (PE). Ele relatou que foram assegurados R$ 160 de vale-compras e 100% de aumento nas horas-extras de sábado. "Vamos tentar melhorar ainda mais essas propostas", acrescentou.

Por um acerto entre as centrais, ficou decidido que as negociações de Jirau e Santo Antônio ficarão a cargo da CUT. "Para demonstrar nossa boa vontade, se for fechado um bom acordo pela CUT, nós seremos capazes até mesmo de concordar", provocou Paulinho, ao lado de Artur Henrique, que retrucou. "Não será um acordo da CUT, será um acordo das centrais".

Segundo o presidente da CBIC, o ministro Gilberto Carvalho expressou claramente, durante o encontro, a preocupação da presidente Dilma Rousseff com a paralisação nas obras do PAC. Ele foi orientado a ligar para ela tão logo terminasse a reunião. Representantes das construtoras participaram da reunião.