Título: Plano do BCE de elevar os juros ganha apoio apesar do agravamento na crise
Autor: Atkins, Ralph
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2011, Finanças, p. C2

Financial Times, de Frankfurt

A decisão de elevar os juros foi sinalizada por Jean-Claude Trichet, presidente do BCE, e colocará o banco à frente do Fed em termos de aperto da política monetária A determinação do Banco Central Europeu (BCE) de prosseguir com elevações das taxas de juro foi defendida por uma alta autoridade monetária, mesmo após o agravamento da crise da dívida da zona do euro na Irlanda e em Portugal, dois dos membros mais frágeis na região. Escrevendo no "Financial Times", Jürgen Stark, membro do conselho executivo do BCE, defendeu que uma política monetária "tamanho único" acabará por beneficiar todos os membros. Ele diz que os países mais frágeis na zona do euro estão recebendo apoio excepcional, numa escala impossível se não fizessem parte da união monetária europeia.

A intervenção de Stark vem a público num momento em que a crise bancária na Irlanda entra em nova fase com a publicação, hoje, dos resultados dos "testes de estresse" bancários. O novo governo irlandês vem sofrendo pressões do BCE para que reaja rapidamente com um plano eficaz para recapitalizar e "prover socorro de última instância" a seus bancos.

A pressão dos mercados financeiros para que Portugal aceite um pacote de socorro internacional está crescendo após a renúncia do primeiro-ministro do país na semana passada. Os rendimentos dos títulos portugueses e irlandeses bateram novos recordes na era do euro, nesta quarta-feira.

Os comentários de Stark solidificarão as expectativas de que o BCE reagirá à alta da inflação da zona do euro, elevando sua principal taxa de juros em um quarto de ponto percentual na próxima semana. A decisão, sinalizada neste mês por Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, colocará o banco central à frente do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) e do Banco da Inglaterra em termos de aperto da política monetária.

O BCE considera robusto o crescimento geral da zona euro. O banco está determinado a assegurar tranquilidade, no sentido de que os bancos irlandeses continuarão a receber a liquidez necessária, porém somente para ajudar bancos considerados solventes.

Uma opção para mais longo prazo seria uma linha especial de financiamento do BCE para bancos na zona do euro em processo de reestruturação ou uma flexibilização das regras que determinam o montante de garantias que os bancos precisam oferecer ao tomar empréstimos do BCE.

Um aumento dos juros por parte do BCE poderá impactar adversamente países como a Irlanda - mas também a Espanha - mais duramente do que outros devido a seu efeito nos mercados de financiamento imobiliário. O crescimento da zona euro pode estar mostrando sinais de desaceleração com o encarecimento do petróleo.

A Comissão Europeia informou na quarta-feira que seu indicador do "ânimo econômico" na região caiu substancialmente, em março, pela primeira vez desde maio do ano passado - quando a crise da zona do euro estava em seu auge. Alguns dos maiores esfriamentos do ânimo registraram-se em Portugal, na Espanha e na Grécia. A pesquisa evidenciou os maiores níveis de temor, em uma década, dos consumidores da zona euro diante da inflação.