Título: Governo une esforços para diversificar a economia
Autor: Magalhães, Heloisa ; Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2011, Especial, p. G8
Do Rio
O Estado do Rio de Janeiro está se voltando cada vez mais para um perfil econômico diversificado. A visceral atração para o turismo a partir da beleza natural faz com que a cidade do Rio de Janeiro cresça na área de serviços, mas cercada por um cinturão industrial capitaneado pelo peso dos investimentos em energia, com a produção de petróleo e gás que ajudaram a impulsionar a indústria naval e a petroquímica, além dos investimentos que vêm sendo realizados em siderurgia, avalia o governador Sérgio Cabral Filho.
Ele diz que pretende marcar seu segundo mandato com um Estado reestruturado economicamente, que possa realizar com sucesso os Jogos Olímpicos de 2016. Há, assim, um legado a partir de obras estruturantes concluídas, com mais segurança para a população, este um dos maiores desafios da sua administração.
Cabral aponta nesta entrevista as conquistas na guerra contra o tráfico de drogas e o trabalho que vem sendo realizado para incorporar à cidade as favelas dominadas pelo poder paralelo.
Valor: Qual é o perfil para o Estado do Rio de Janeiro que o sr. visualiza ao fim do seu segundo mandato, seja econômica ou socialmente?
Sérgio Cabral: Eu vejo um Estado que terá dado um salto extraordinário na qualidade de gestão, o que se refletirá em diversas áreas e beneficiará diretamente a população como um todo. Um Rio de Janeiro que saiu da falência iminente em 2007 para receber, em 2010, o investment grade da agência Standard & Poors, e conquistar um espaço fiscal - que é a capacidade de contrair empréstimos para investir - nos anos de 2007, 2008 e 2009, de R$ 9 bilhões. Vejo um Estado solvente, que paga os seus funcionários no primeiro e segundo dias úteis do mês, quando durante 20 anos pagou os seus servidores até no 15º dia. O que visualizo é um Rio com obras estruturantes concluídas e com mais segurança, porque a paz é a base para todas as outras conquistas. No fim de 2014, o Rio que pretendo deixar para o meu sucessor será aquele que saiu do longo período de estagnação econômica e desprestígio político vivido durante anos e que retomou o caminho do desenvolvimento. É para isso que trabalhamos, agora no segundo mandato, para ampliar e consolidar os projetos bem-sucedidos que estão transformando a realidade do nosso Estado na saúde, na educação, na geração de emprego - área em que batemos recorde nacional em 2010, alcançando a menor taxa de desemprego da história do Rio: 4,9% - e na segurança. Até 2014, vou cumprir o meu compromisso de pacificar todas as comunidades que ainda estejam controladas por criminosos. E vamos deixar um grande legado com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016: mais transporte de qualidade, saneamento, mais segurança e qualidade de vida para o povo do nosso Estado.
Valor: Durante muitos anos, foi dito que a vocação do Rio era o setor de serviços. No entanto, estamos vendo um forte crescimento na área industrial voltado para o petróleo. O sr. acredita que esse movimento transforma o perfil ou o Rio não perderá a sua vocação para serviços?
Cabral: O setor de serviços continua sendo a grande vocação do Rio. Mas, ao mesmo tempo, o interior do Estado recebe cada vez mais novas indústrias e investimentos na ampliação de plantas existentes, graças a uma política de atração de empresas que temos desenvolvido nos últimos quatro anos. Além disso, somos a capital brasileira da energia. Produzimos mais de 80% do petróleo e de 40% do gás do país. Então, o Rio não perde a sua vocação, mas incorpora e consolida outras, como é o caso da indústria naval e da siderurgia. Nesses últimos anos, houve uma forte retomada da indústria naval no Estado, área em que somos líderes no Brasil. Hoje, temos 15 estaleiros em operação, concentrando 60% das encomendas nacionais e empregando diretamente 25 mil trabalhadores. Há investimentos previstos de mais de R$ 4 bilhões nos próximos três anos, englobando a instalação de novos estaleiros e a reativação de outros. Na siderurgia, os investimentos em curso levarão o nosso Estado à liderança do setor, que deverá receber cerca de R$ 21,1 bilhões nos próximos anos. O montante exclui a CSA ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica, planta de cinco milhões de toneladas do grupo alemão com a Vale, que começou a operar ano passado e elevará a nossa capacidade de produção de aço de 7 milhões de toneladas por ano para 13 milhões de toneladas. Outras duas usinas do mesmo porte - uma da chinesa Wisco e outra do grupo Ternium - serão construídas no Complexo do Açu, no norte fluminense.
Valor: O sr. avalia que a cidade do Rio poderá crescer na área de pesquisa, a exemplo dos centros que estão sendo instalados na Ilha do Fundão, deixando a expansão industrial propriamente dita para a periferia ou o interior do Estado?
Cabral: Acho que o caminho é esse. A cidade do Rio sempre teve nacionalmente essa característica de ser um polo importante na área acadêmica, do pensamento, da pesquisa. Hoje, a boa notícia é que ao mesmo tempo em que a capital amplia essa vocação, o interior tem a sua economia muito fortalecida pela instalação de novas indústrias e a ampliação de outras. Em relação ao primeiro caso, um exemplo claro é o Rio como o maior centro de pesquisas de óleo e gás off-shore do planeta. A Petrobras, com o Cenpes, é a grande âncora. Mas há diversas empresas nacionais e multinacionais se instalando na Ilha do Fundão. O mais recente anúncio foi da General Electric. Então, esta é a cara do Rio. Por outro lado, a expansão industrial segue firme para o interior. A PSA Peugeot Citroën empregará R$ 1,5 bilhão na expansão da sua produção em Resende, no sul do Estado. No centro-sul, o município de Três Rios é um dos mais atraentes e recebeu grande número de novas empresas, como a fábrica da Latapack-Ball, com capacidade para produzir 1,1 bilhão de latas por ano, e a unidade de lácteos da Nestlé, um investimento de R$ 100 milhões, para citar dois exemplos.
Valor: Ainda que o Rio esteja caminhando para uma situação de controle do poder paralelo nas favelas, essas comunidades em si representam uma chaga na paisagem da cidade e da periferia. Qual a alternativa para tornar-se urbanisticamente adequadas para que a cidadania chegue a essas populações?
Cabral: Trabalhamos duro para levar a cidadania à população mais carente, para unir de novo a cidade partida. A nossa parceria com o governo federal, que começou e teve resultados concretos com o governo do presidente Lula e agora continua com a presidente Dilma, permitiu que viabilizássemos o maior projeto social da história do Rio de Janeiro: o PAC das Comunidades. Trata-se de um investimento de quase R$ 1,7 bilhão, beneficiando diretamente mais de 300 mil pessoas da Rocinha, de Manguinhos, do Complexo do Alemão, do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, e do Preventório, em Niterói. Retiramos milhares de pessoas de áreas de risco, entregamos apartamentos novos e dignos para milhares de famílias, abrimos ruas, construímos praças e centros para a prática de esportes, como o Complexo Esportivo da Rocinha, além de equipamentos culturais que são modelos, como é o caso da biblioteca de Manguinhos, um lugar lindo e com tecnologia que insere os jovens e adultos da comunidade no mundo dos livros e da cultura. Neste nosso segundo governo, faremos o PAC 2 das Comunidades, com novos investimentos de mais de R$ 5 bilhões, viabilizando 14 mil novas unidades habitacionais e a reforma de 35 mil moradias, em diversas comunidades carentes. A segunda fase do PAC das Comunidades deve chegar ao Complexo da Penha e ao Complexo da Tijuca. Em seguida, o programa deverá ser estendido para comunidades nas zonas Norte e Oeste, da Baixada Fluminense e de São Gonçalo. Todos os investimentos continuam sendo fruto da parceria com os governos federal e municipal. Esperamos beneficiar mais um milhão de habitantes de comunidades que foram completamente abandonadas pelo poder público ao longo de décadas.
Valor: O Rio enfrenta problemas na infraestrutura de acesso. Fora os principais eixos, Rio-São Paulo e Rio-Belo Horizonte, os principais acessos, inclusive das regiões dos Lagos e Sul do Estado, são precários. Esses gargalos serão resolvidos?
Cabral: O nosso projeto mais importante para o sistema rodoviário do Estado é o Arco Metropolitano. É uma das principais obras do PAC, mais um fruto da parceria do nosso governo com o governo federal. Este é um projeto que estava há 30 anos no papel e que começamos a fazer, mesmo com alguns entraves ambientais que atrasam o andamento das obras, mas que estamos resolvendo. O Arco Metropolitano será uma grande rodovia que vai ligar a BR-101, na altura de Itaboraí, ao porto de Itaguaí e aos principais eixos rodoviários do Estado. Com ele, vamos desafogar o fluxo de veículos, principalmente na Baixada Fluminense e nos corredores de entrada da cidade do Rio, como a Avenida Brasil e a Ponte Rio-Niterói. Além do Arco Metropolitano, na área do turismo, atividade econômica principal de cidades das regiões dos Lagos e Serrana, nós sabemos que a melhoria das estradas é um fator crucial. Alguns exemplos são investimentos que fizemos na rodovia RJ-117, que liga Paty do Alferes a Petrópolis, passando por Miguel Pereira; e na RJ-108, entre Ponta Negra, em Maricá, e Jaconé, em Saquarema, na Região dos Lagos, também para favorecer o aumento do turismo nos municípios dessa região. De forma geral, no nosso primeiro mandato o Departamento de Estradas de Rodagem, o DER, investiu mais de R$ 400 milhões na recuperação e na construção de estradas. É o maior orçamento que o DER já teve e foi aplicado na conservação de 3.500 km de estradas asfaltadas e no asfaltamento de 1.500 km que ainda são de terra batida. A nossa meta é terminar o mandato com 100% das rodovias estaduais asfaltadas e totalmente recuperadas.