Título: Rio terá de conviver com chuvas mais fortes e mais calor, diz estudo
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2011, Brasil, p. A2

De São Paulo O Rio de Janeiro, a maior metrópole costeira do Brasil, terá que se preparar para conviver com chuvas fortes cada vez mais intensas e frequentes. Além disso, o nível do mar já estará subindo, o que agravará as inundações e ressacas. A elevação da temperatura será intensa em dias muito quentes e o número de dias com temperaturas mínimas não abaixo de 20°C irá quase dobrar. Esse clima será ainda mais propenso à proliferação do mosquito da dengue. A origem disso tudo é a mudança do clima e a mensagem é que o Rio tem que começar agora a se adaptar. A boa notícia é que são problemas que a engenharia consegue resolver. Esses cenários serão apresentados hoje, durante reunião do Fórum Carioca de Mudanças Climáticas, no Palácio da Cidade, com representantes do Executivo do Rio. Fazem parte do estudo "Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana do Rio de Janeiro", financiado pelo Reino Unido e que juntou 29 pesquisadores de universidades estaduais e federais e institutos de pesquisa. Foi coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Núcleo de Estudos da População (Nepo), da Universidade de Campinas (Unicamp) e tem como objetivo avaliar os riscos em regiões metropolitanas brasileiras. O estudo sobre São Paulo saiu em junho.

A elevação do nível do mar será fonte de problemas e irá forçar a infraestrutura em várias regiões. As construções de Copacabana, por exemplo, estão a 1,5 metro do nível do mar, o que representa riscos, no futuro, em dias de ressaca e com o mar subindo 0,5 metro. Talvez seja preciso recolocar areia na praia. Certamente terá que se estudar a maior pressão que existirá nas galerias pluviais e no sistema de esgoto, aponta Sergio Besserman, coordenador da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura. "Existe conhecimento para enfrentar tudo isso e temos tempo, mas tem que planejar".

A análise de dados na capital, em séries históricas, mostra que chuvas fortes estão mais frequentes e que chove mais, em volume. "Os dias e as noites quentes também estão mais frequentes, ao contrário dos mais frios, o que é consistente com um cenário de aquecimento global", diz o estudo. "Quanto melhor o planejamento, menos custos teremos à frente. Quanto mais ignorado o problema, mais caro será", reforça Besserman. "Adaptar-se à mudança do clima tornou-se muito relevante."

O trabalho menciona as tragédias que aconteceram nos últimos dois verões no Estado. Em abril de 2010, choveu 323 mm em 24 horas na região metropolitana do Rio, o que provocou deslizamentos, ressacas com ondas de até cinco metros e a morte de mais de 230 pessoas. Em janeiro, o drama se repetiu com mais força na região serrana. O desastre natural mais severo da história do país matou mais de 900 pessoas e deixou milhares de desabrigados.

O estudo, contudo, diz que não é possível afirmar "que as mudanças climáticas desencadeadas pelo aquecimento global são responsáveis por essas tragédias". Eventos extremos como esses acontecem há muito tempo e a ocupação de áreas de risco e a falta de um sistema de alerta criam cenários favoráveis a tragédias. "Mas essas catástrofes são um sinal do que poderemos enfrentar com cada vez mais frequência, se nada for feito para diminuir as situações de risco."

O estudo coloca uma lupa na região metropolitana do Estado. A disponibilidade de água pode ser muito afetada pela alteração no regime de chuvas. O sistema de esgoto também tem que ser pensado, porque o aumento do nível do mar tende a pressionar as galerias, assim como um acurado planejamento de drenagem. Besserman diz que a reforma do porto do Rio já dimensiona as galerias pluviais levando em conta esses cenários.

Dengue e leptospirose, doenças já graves no Rio e no Brasil, tendem a preocupar mais, diz o médico Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, em Belo Horizonte. Os manguezais são um ecossistema vulnerável. Conhecidos como berçários da biodiversidade, protegem a costa evitando a erosão, previnem contra inundações e servem como barreira natural para tempestades. Seu destino depende da ocupação urbana que ocorrer por perto.