Título: Aécio reforça pré-candidatura a 2014 em discurso com a presença de Serra
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2011, Política, p. A10

De Brasília A pré-candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República em 2014 ganhou força com o discurso político de estreia na tribuna do Senado, feito ontem em um plenário lotado e na presença do ex-governador José Serra. Apresentando-se como "homem de diálogo", Aécio foi crítico em relação ao governo Dilma Rousseff e especialmente duro com o PT - mas manteve a "elegância", segundo os próprios governistas, dos quais recebeu mais elogios do que contestações. Aécio ficou na tribuna até as 20h25, recebendo apartes. O objetivo do discurso não era fazer uma avaliação dos primeiros meses do governo Dilma, mas Aécio disse que, apesar do esforço da presidente em impor personalidade própria ao governo, "não há ruptura entre e velho e o novo, mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos".

"O Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política - apoiada por farta e difusa propaganda oficial - não se confirma na realidade", afirmou.

Para o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), o pronunciamento de Aécio - que inaugurou um debate político no Senado na atual gestão -, foi "a palavra que faltava para as oposições". O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), afirmou ter sido um discurso de "estadista", que refletiu as condições de Aécio para assumir a Presidência da República. Serra considerou um "bom discurso" e uma "contribuição" para dar um rumo para a atuação da oposição. Líderes tucanos se mostraram surpresos com a presença do candidato derrotado a presidente, embora para alguns a ida seguiu uma estratégia de mostrar unidade partidária.

Aécio fez um resgate histórico do comportamento do partido de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma como oposição ao governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.

O líder do PT, Humberto Costa (PE), afirmou que Aécio mostrou ser "o melhor quadro da oposição desse país". Elogiou a "competência" do mineiro, mas afirmou que isso não dava ao tucano o direito de ser "injusto" em relação ao PT. Referiu à declaração do senador tucano de que o PT sempre optou pelo partido, quando foi chamado a escolher entre o Brasil e o PT. "Acho que essa frase seria melhor construída se nós fizéssemos o debate não entre o Brasil e o PT, mas que Brasil é o Brasil do PT e que Brasil é o Brasil do PSDB."

Aécio afirmou que o país precisa de um "choque de realidade" e que o desarranjo fiscal provocado pelo governo Lula durante o processo eleitoral exige agora um "ajuste de grande monta que penalizará investimentos anunciados com pompa e circunstância".

Segundo ele, o país vive grave risco de desindustrialização e volta da inflação. Aécio apontou o mau desempenho da qualidade geral da infraestrutura do país, citando relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial. A alta carga tributária também foi destacada: "Impressiona saber que, apesar de todos os avanços, que, reconheço, existiram nos últimos anos, a carga tributária das famílias com renda mensal de até dois salários mínimos passou, segundo o Ipea, de 48,8% em 2004 para 53,9% da renda em 2008."

A subordinação das agências reguladoras ao governo federal e a interferência na gestão da Vale foram exemplos de medidas do governo Dilma selecionadas por Aécio na tentativa de mostrar que não atendem aos interesses da nação. "Não posso crer que seja interesse do país que o governismo avance sobre empresas privadas, com o objetivo de atrelá-las às suas conveniências. Como se faz, agora, sem nenhum constrangimento, com a (...) Vale."

Aécio lembrou que o PT foi contra a eleição de Tancredo Neves, em 1985, e não apoiou os ex-presidentes José Sarney e Itamar Franco. Citou também a oposição do PT ao Plano Real, lançado por Itamar, e à criação da Lei de Responsabilidade Fiscal, na gestão FHC. Pontuou, ainda, os ataques do PT aos primeiros programas federais de transferência de renda do país, criados na gestão do tucano, que deram origem ao Bolsa Família de hoje.

O tucano defendeu as "mudanças estruturais" do governo FHC, como as privatizações. Citou o exemplo da democratização do acesso à telefonia celular como "melhor exemplo do acerto das medidas corajosamente tomadas".

Gleisi Hoffmann (PT-PR) lembrou que os ex-candidatos a presidente Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006, não defenderam o legado de FHC e não enfrentaram o debate das privatizações. Serra, ao final, minimizou o comentário.

Na tentativa de dar diretriz à ação da oposição, Aécio apontou, como "obrigações básicas": fiscalizar com rigor, apontar o descumprimento de compromissos assumidos com a população, denunciar desvios, erros e omissões e cobrar ações que sejam realmente importantes para o país. Aécio defendeu que a oposição trabalhe para reduzir "a mais grave concentração de impostos e recursos e poder" nas mãos da União e aproximação maior com os setores da sociedade.