Título: Portugal se rende e pede operação de socorro à UE
Autor: Wise, Peter; Spiegel, Peter
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2011, Portugal, p. C11

Financial Times, de Lisboa e Bruxelas

José Sócrates, o premiê de Portugal em final de mandato, pediu à União Europeia assistência financeira, abrindo caminho para a terceira operação de salvamento de um país da zona do euro depois da Grécia e da Irlanda.

"O governo decidiu hoje pedir ajuda financeira à Comissão Europeia", disse Sócrates em breve pronunciamento pela TV na noite de quarta-feira.

A medida foi saudada por altos funcionários da UE, que vinham estimulando uma iniciativa desse gênero. "Trata-se de uma medida responsável do governo português", disse ao "Financial Times" Olli Rehn, o mais graduado funcionário da área econômica da UE.

José Manuel Barroso, ex-premiê de Portugal e atual presidente da Comissão Europeia, emitiu um comunicado em que disse ter sido informado da solicitação de Sócrates e estar confiante na capacidade de Lisboa de "superar as atuais dificuldades".

Ele acrescentou que "essa solicitação será processada da maneira mais rápida possível, conforme as normas cabíveis".

O ministro da Fazenda de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, disse ao diário "Jornal de Negócios" de Lisboa que "o país foi irresponsavelmente empurrado para uma situação muito difícil nos mercados financeiros", referindo-se à derrota do governo, de minoria socialista, em votação, duas semanas atrás, sobre medidas de austeridade. "Defrontado com essa situação difícil, que poderia ter sido evitada, o governo, em final de mandato, terá de buscar assistência financeira da UE."

A solicitação de ajuda terá de ser redigida em termos "adequados à atual situação política", acrescentou ele. O custo da tomada de recursos em Portugal disparou para níveis que, segundo reconhece o governo, são insustentáveis depois de sua derrota parlamentar, que levou à renúncia do premiê, José Sócrates, com presença anunciada em rede de TV para a noite de ontem. As eleições se realizarão a 5 de junho.

O governo foi obrigado a pagar rendimentos superiores a 5% para captar ¿ 1 bilhão em títulos de curto prazo. Segundo Filipe Silva, diretor de transações com títulos públicos do banco Carregosa, o salto dos retornos em relação aos leilões anteriores equivalentes de um mês atrás se traduzirá em 11 milhões adicionais em pagamentos de juros.

Não ficou claro de imediato qual seria a forma a ser dada a uma solicitação do governo por ajuda da UE, mas o governo em final de mandato disse anteriormente não ter autoridade política para negociar um acordo de salvamento sustentado pela linha de crédito de estabilidade financeira europeia, o fundo de socorro da UE.

Altos funcionários do governo já deram início a conversações preliminares com a Comissão Europeia sobre a obtenção de um financiamento de curto prazo até a posse de um novo governo.

Embora Sócrates tenha resistido a um pedido de ajuda, outros funcionários graduados do governo se envolveram em discussões sobre como desencadear a liberação de um pacote de socorro. As autoridades da área financeira estão confiantes de que Lisboa será capaz de arcar com ¿ 5 bilhões em resgates de bônus e pagamentos de juros a vencer a 15 de abril. Mas outros ¿ 7 bilhões com vencimento em 15 de junho são motivo de preocupação, principalmente devido ao fato de que o governo recém-eleito não terá sido empossado.