Título: Depois de tanto bater, mercado compra bancos
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2011, Investimento, p. D2

Alta da taxa de juros, medidas macroprudenciais, expectativa de um crescimento econômico menor e de crédito idem. Essa conjunção de fatores fez com que as ações de bancos sofressem de forma acentuada nos últimos meses. Depois de tanto apanharem, nos últimos dois pregões o jogo virou e esses papéis tiveram um movimento de valorização. A divulgação do relatório de inflação do Banco Central foi o grande impulso para essa reação.

Os analistas acreditam, no entanto, que esse foi apenas o argumento que os investidores encontraram para comprar ações que estavam altamente depreciadas. "Essa é uma correção de preços que teria realmente que ocorrer, já que os indicadores desses bancos estão bem abaixo de suas médias históricas", diz o analista da Lopes Filho & Associados João Augusto Salles.

A relação de preço sobre lucro (P/L, que dá uma ideia de quantos anos demora para o investidor ter de volta o quanto aplicou na ação) de Bradesco e Itaú Unibanco está por volta de 10 vezes, sendo que historicamente varia entre 12 a 13 vezes.

O relatório de inflação do BC mostrou que o governo tem como objetivo levar a inflação para o centro da meta só em 2012. Na interpretação do mercado, isso pode significar um processo de aperto monetário mais brando e um adiamento de novas medidas macroprudenciais. Para Salles, essa já era a leitura da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Papéis do setor lideram as altas dos últimos dois dias

Nos últimos dois pregões, as ações dos principais bancos acumulam ganhos interessantes. As ações preferenciais (PN, sem voto) do Bradesco subiram 5,97%, as PN do Itaú, 6,37%, e as units (recibo de ações) do Santander, outros 3,66%. Para se ter ideia de como esses papéis estavam sofrendo, no ano, as PN do Itaú até então caíam 6,55%, as do Bradesco, 3,21% e as units do Santander, 14,62%.

Os estrangeiros, que foram os grandes vendedores desses papéis, também lideraram as compras nesta semana. Para Salles, após as quedas, o setor passou a ser uma opção de investimento, mas de forma bem seletiva.

Isso porque o cenário de juros altos, crescimento menor do crédito e medidas macroprudenciais, como aumento do depósito compulsório, vai dificultar os ganhos das instituições financeiras. "Este será um ano de desafios para os bancos", diz o analista, que recomenda a compra dos papéis do Bradesco e do Itaú. Ele acredita que as duas instituições conseguirão este ano ter lucros maiores que em 2010.

Ontem, o Ibovespa fechou em alta de 0,87%, aos 68.586 pontos. Segundo o gerente da mesa de investimentos de pessoa física da Fator Corretora, Alfredo Sequeira, o índice deve entrar num período de valorização, já que ultrapassou uma resistência importante, os 68.250 pontos. O indicador fechou o trimestre em queda de 1,04%.

Daniele Camba é repórter de Investimentos