Título: Lula recua e oferece abrigo a iraniana
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 01/08/2010, Mundo, p. 21

Em discurso em Curitiba, presidente diz ter pedido a Mahmud Ahmadinejad pela vida de Sakineh Ashtiani, condenada por adultério

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a ceder. Dois dias depois de sugerir que não aproveitaria o canal aberto que tem com o colega iraniano, Mahmud Ahmadinejad, para pedir pela vida de Sakineh Mohammadi Ashtiani condenada à morte por apedrejamento, sob a acusação de adultério , Lula afirmou que conversou com o amigo e ofereceu, inclusive, abrigo à iraniana no Brasil. O presidente disse ainda que, se for eleita, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, telefonará para Ahmadinejad em seu nome, para também interceder por Ashtiani. Resta saber se o governo de Teerã vai considerar mais um apelo do colega brasileiro que se junta aos de dezenas de organizações de direitos humanos, celebridades e outros governos, como o do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Em um discurso ao lado de Dilma em Curitiba, Lula voltou a dizer que é preciso respeitar as leis e a soberania do Irã, mas destacou que nada justifica um Estado tirar a vida de alguém. Se vale a minha amizade e o carinho que tenho pelo povo iraniano, e se essa mulher está causando incômodo (no Irã), nós a receberíamos no Brasil, sugeriu. O Palácio do Planalto não confirmou se o pedido a Ahmadinejad pela vida de Ashtiani teria sido feito em um telefonema recente, mas, há duas semanas, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, entrou em contato com o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, para pedir o cancelamento da pena da mulher de 43 anos.

Na última quarta-feira, Lula afirmou em Brasília que não cederia aos apelos para falar com Ahmadinejad, expressos na rede de microblogs Twitter, por meio da campanha Liga Lula. Na ocasião, ele disse que, se todo mundo pedir para um país mudar suas leis, vira uma avacalhação. Ashtiani está presa desde maio de 2006, acusada de ter traído o marido com o homem que depois o matou. Na época, foi condenada a 99 chibatadas, e, depois, após confessar o crime de adultério, à morte por apedrejamento.

Uma campanha movida por um dos dois filhos de Sakineh, Mohammadi Ashtiani, conseguiu suspender a execução da mãe, prevista para julho, mas não derrubou sua sentença de morte. Ontem, a rede americana CNN divulgou trechos de uma carta que teria sido escrita por Ashtiani, da prisão de Tabriz (oeste do país). No texto, enviado à advogada Mina Ahadi, a mulher agradece todo o apoio da comunidade internacional, e diz que tem medo de morrer. Senhora Ahadi, diga a todos que tenho medo de morrer. Me ajude a continuar viva para abraçar os meus filhos, diz Ashtiani. Muitas noites, antes de dormir, eu penso em como alguém pode estar preparado para jogar pedras em mim, mirando a minha face e mãos?, diz, na carta.

Um abaixo-assinado virtual pela libertação da iraniana tem quase 142 mil assinaturas, entre elas a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo o site freesakineh.org.