Título: Falando economês, novo secretário vai focar gestão
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Fonte: Valor Econômico, 06/04/2011, Especial, p. A14
"Suprir a demanda", "analisar a curva de carência de professores", "maximizar recursos". O "economês" está instituído na gestão do ensino do Rio de Janeiro. Desde que assumiu a Secretaria Estadual de Educação, no fim de 2010, a convite do ex-secretário estadual da Fazenda Joaquim Levy, o economista Wilson Risolia se cercou de outros economistas, estatísticos e analistas de recursos humanos com o objetivo de dobrar a nota (2,8) do ensino médio do Rio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) até 2014 - nos últimos cinco anos, o Ideb do Rio variou apenas de 2,6 para 2,8.
A orientação do trabalho da Secretaria sugere um choque de ordem, semelhante ao que Risolia implementou nos últimos três anos no RioPrevidência, zerando um rombo anual de R$ 2,5 bilhões no fundo de pensão dos servidores fluminenses. Especialista em engenharia financeira e desenvolvimento econômico, ele e sua equipe passaram os últimos cinco meses debruçados sobre uma montanha de tabulações e estatísticas sobre gastos, rendimento escolar, infraestrutura da rede, situação de docentes e pendências jurídicas.
Em janeiro, Risolia anunciou uma economia de R$ 111 milhões no orçamento da pasta, a criação de um índice de infraestrutura da rede e um pacote de decretos que institui o currículo mínimo, a política de meritocracia e o processo seletivo para cargos estratégicos.
Um exemplo do choque de gestão é a racionalização dos gastos com reformas e construção de escolas. As condições físicas da rede foram mapeadas. "Várias unidades têm problemas com telhado, é mais barato licitar vários serviços."
Risolia contou que o governador Sérgio Cabral cobrou dele a entrega de 40 novas escolas até o fim do mandato. A secretaria trabalha num modelo de licitação para várias escolas simultaneamente, com projetos arquitetônicos padronizados. O investimento será de cerca de R$ 400 milhões. "Já existe um padrão. A primeira escola é entregue em 150 dias. A partir da segunda unidade, a reprodução é seriada, com 90 dias de obra."
O Ideb de cada uma das 1.457 escolas da rede também foi mapeado. As escolas em situação mais crítica terão atenção especial. Painéis de controle nos gabinetes do governador e do secretário vão identificar como as escolas estão se comportando em relação às metas. Até aqui, a análise dos números mostrou que as 50 piores escolas do Rio são todas compartilhadas (unidades da prefeitura usadas à noite pelo Estado). A preparação dos professores, o conteúdo e o acompanhamento das metas dessas escolas terão prioridade. As 286 escolas compartilhadas também são candidatas naturais a mudar de endereço, para unidades reformadas ou novas.
"Isso é simples de entender: os alunos dessas escolas são de classe de renda mais baixa, que precisam trabalhar, chegam mais tarde para a aula e saem mais cedo porque há questões de segurança. O ideal é conseguir suprir essa demanda diferenciada, conduzir esses jovens de maneira diferente, com dinâmicas de aula diferentes", planeja.
Risolia diz que se espelha no trabalho do colega José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública, que liderou a pacificação de favelas. "Atravessamos a segurança com um gestor duro, objetivo, sério, correto, que tinha um foco e o seguiu até chegar onde estamos hoje. Se fizer 10% do que o Mariano está sendo será um avanço."