Título: Mudança no perfil de vendas ao país é vista com ceticismo
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2011, Valor, p. A5

De Genebra A possibilidade de o Brasil obter um compromisso duradouro da China para importar produtos brasileiros com valor agregado é vista com ceticismo na cena comercial. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estabeleceu que o principal objetivo da delegação de 237 empresários que acompanha a presidente Dilma Rousseff é "abrir o mercado chinês a produtos brasileiros de mais sofisticação técnica e portanto de maior preço".

A reclamação brasileira é que a qualidade da balança bilateral é desfavorável ao país, já que exporta sobretudo matérias-primas, como soja e minério de ferro, e importa produtos com valor agregado. Para uma das maiores especialistas de China na Europa, Valerie Niquet, da Fundação de Pesquisa Estratégica de Paris, se o governo chinês quiser fazer um gesto na visita de Dilma, terá a possibilidade efetiva de decidir quais empresas vão escolher produtos brasileiros para comprar.

Segundo Valerie, "isso será muito pontual, de importar um ou outro produto brasileiro, para mostrar que se interessa pelo Brasil". Ela considera que "fundamentalmente, o único interesse da China em relação ao Brasil é sua posição geopolítica na cena internacional, como aliado face ao Ocidente, e a segunda é como produtor de commodities e para investimentos nessa área".

A China tem idêntico problema com a Rússia, que também quer exportar produtos com valor agregado, mas Pequim só se interessa por matéria-prima e energia. "A China quer exportar o mais possível e importar menos, pois precisa criar cada vez mais empregos, porque o desemprego aumenta."

Certos analistas próximos de entidades internacionais acrescentam que, apesar da centralização da economia chinesa, o Brasil não conseguirá alterar "na canetada" a composição da balança bilateral, e sim mudando condições estruturais de sua economia. Avaliam que o país perdeu competitividade na área industrial, o que se reflete na composição das exportações. Entre 2005 e 2010, a parte de manufaturados no total exportado caiu de 47,9% para 21,4%.

Consideram que a valorização do real é apenas parte da história, e lembram sérios problemas na infraestrutura, custo do trabalho, encargos sociais e ineficiência tecnológica. Insistem que não dá para elevar exportações por decreto, e é preciso competitividade e estratégia para vender produtos diferenciados para o mercado chinês.

Para um negociador que conhece bem a China, o Brasil já pode considerar bom resultado se puder exportar commodities com grau de processamento mais avançado, no primeiro momento.

Mas a dificuldade para isso foi ilustrada na última visita do ex-presidente Lula a Pequim. Os chineses prometeram suspender barreiras para a entrada de carne de frango, sob uma condição: o frango teria que chegar inteiro, para os frigoríficos locais criarem emprego para o corte do produto.