Título: Segurança na fronteira pauta parceria no PR
Autor: Lima, Marli; Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2011, Política, p. A8
De Curitiba e São Paulo A construção de um gabinete de gestão integrada em Foz do Iguaçu para combater o tráfico de drogas e de armas na fronteira é um exemplo da cooperação entre o governo federal e o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). A medida, negociada entre o tucano, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, será uma das principais marcas do governo estadual na área de Segurança no começo da gestão. Richa fez questão de deixar claro desde o início do governo que não faria oposição a Dilma e que pretendia trabalhar em parceria com o governo federal. Na semana passada, Richa esteve com a presidente em Brasília, em busca de recursos federais. Na volta, divulgou texto para informar que foi bem recebido e que Dilma "se mostrou interessada" em ajudar, "principalmente nas áreas de segurança pública e infraestrutura", o que incluiria combate ao crime organizado e à violência na fronteira. Richa também busca recursos para obras no porto de Paranaguá e para reforçar os investimentos em infraestrutura no Estado.
O governador paranaense começou sua gestão alegando que a situação financeira do Estado era precária. Suspendeu por 90 dias o pagamentos a fornecedores e prestadores de serviços e anunciou auditoria nas contas. Segundo o tucano, estão em análise R$ 550 milhões de contratos. "Encontramos alguns indícios de irregularidade e boa parte das obras foi assinada ou publicada durante o período eleitoral", afirma Richa. Para enxugar despesas, exigiu aos secretários o corte de 15% dos gastos de custeio. "O Estado está com uma dificuldade financeira muito grande, uma capacidade de investimento reduzidíssima", diz.
Em relação a recursos privados, como já em 2010 a nova equipe divulgava conversas com grandes empresas que estariam interessadas em investir no Paraná e que só esperavam a saída de Roberto Requião (PMDB), criou-se a expectativa de que ele faria algum grande anúncio, como uma possível ampliação da atuação da Ambev, com nova fábrica no município de Ponta Grossa. Em fevereiro, foi anunciada a flexibilização das regras de concessão de incentivo fiscal, para tornar viáveis as negociações em andamento. Nenhum resultado foi mostrado até o momento.
O governador, no entanto, argumenta que "a expectativa de retomada de industrialização do Estado é muito forte". "Muitas empresas têm nos procurado para instalar suas indústrias. Hoje existe segurança jurídica", afirma. Richa diz ter enviado à Assembleia Legislativa um projeto de lei para criar Parcerias Público Privadas (PPPs).
Logo que assumiu, sem preocupar-se com críticas, Richa manteve a postura de Requião, seu antecessor, e nomeou parentes para secretarias importantes. "Isso não é nepotismo", rebate. "Meu irmão e minha esposa foram secretários no meu governo de Curitiba. Não enganei ninguém", diz. Também levou para o governo ex-aliados de Requião e do ex-governador Jaime Lerner.
O começo do governo de Richa foi atribulado. Depois de declarar a suspensão de pagamentos, autorizar o uso da Polícia Militar para fazer a segurança da Assembleia Legislativa e de enfrentar deslizamentos de terra que arrasaram cidades do litoral do Estado e interditaram rodovias, um dos assuntos que ganharam destaque no período foi a sucessão na prefeitura de Curitiba, na qual o tucano terá peso. O que está em discussão é se ele vai apoiar seu ex-vice, Luciano Ducci (PSB), ou o ex-senador Gustavo Fruet, companheiro de partido.
Richa fez sucesso nas duas vezes em que foi eleito prefeito da capital. No governo, os primeiros cem dias são vistos com decepção por alguns e com expectativa por outros. "Aconteceu alguma coisa nesse período?", questiona o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Adriano Codato. Para o ex-governador Orlando Pessuti (PMDB), aconteceu o que era esperado, "que ele botasse os pés no freio". Na opinião de Másimo Della Justina, professor de Ciências Econômicas da PUC do Paraná, o tucano demonstrou mais pragmatismo e menos viés ideológico, mas "está lento e não trouxe novidades".
"Não dá para cobrar promessas de campanha, porque são tão genéricas. Falam em mais verbas para a educação e saúde, mas o político não se compromete", reclama Codato. "Podem alegar que o Estado estava falido, mas não sinalizam para onde vão e ficam só no dia a dia apagando incêndios", completa, em referência às ações de emergência para resolver problemas provocados pelas chuvas.
Para Della Justina, um fato positivo foi a preocupação com transparência na Assembleia, mesmo com o choque inicial da polícia ocupando o prédio. No retorno dos trabalhos da Assembleia, o deputado tucano Valdir Rossoni, presidente da Casa, disse ter sido ameaçado por seguranças comissionados dispensados por ele e pediu ajuda de Richa, que autorizou o envio da Polícia Militar. Richa conta com apoio de 48 dos 54 deputados, mas nos primeiros três meses não enviou mensagens para lá. "As coisas não vão ser tão simples como pareciam no palanque", afirma o deputado Tadeu Veneri (PT), que critica promessas que julga difíceis de cumprir, como zerar o número de presos em delegacias.
As primeiras duas mensagens de Richa tratam da extinção da empresa de energia Gralha Azul, criada para participar de leilão de linha de transmissão no interior, e torna obrigatória apresentação de Certidão Negativa de Débitos junto à Fazenda de qualquer alteração contratual promovida por empresas. Até agora não criou cargos, mas fez substituições em cargos comissionados - em janeiro, ele exonerou 3,5 mil pessoas contratadas com cargos em comissão. "Cem dias podem não significar nada, mas podem significar muito do que serão os próximos quatro anos", diz Veneri, que critica, ainda, o polêmico aluguel sem licitação de um avião a jato e de um helicóptero pelo período de três meses.
Pessoas ouvidas pelo Valor citaram algumas pendências que precisam ser resolvidas pelo novo governo, entre elas, ter ambição para reduzir a violência no Estado. Também faltariam decisões concretas para a redução dos preços dos pedágios.