Título: Soros apoio medidas de controle 'perigosas' do Brasil
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2011, Valor, p. A11

O bilionário investidor húngaro-americano George Soros disse que os controles de capitais impostos pelo Brasil são "perigosos", mas representam a única alternativa que o país tem como defesa diante dos fluxos de capitais que levam à valorização do real.

"A crise no sistema monetário internacional empurrou o Brasil a adotar esses tipos de controles", disse Soros, em entrevista em Bretton Woods, no estado americano de New Hampshire, durante conferência do Instituto para um Novo Pensamento Econômico (Inet, na sigla em inglês). "Para o Brasil, é perigoso, porque pode dar margem a abusos, truques e vários tipos de evasão."

"Não é desejável, mas é uma forma de autodefesa, senão poderíamos ter a moeda brasileira disparando", afirmou o financista, cujo fundo de hedge fez um bem-sucedido ataque especulativo contra a libra inglesa no começo dos anos 1990. "Mesmo com todas as barreiras, o real continua a se valorizar."

Soros disse que, em virtude da aceleração da inflação, a moeda brasileira tende a seguir em trajetória de valorização, mesmo se o Banco Central brasileiro for bem sucedido em segurar a valorização nominal da taxa de câmbio. "Os controles que o Brasil impõe são apropriados na atual situação, mas não são a solução ótima."

O megainvestidor, que há alguns anos lançou uma teoria de que o mundo financeiro gira em torno de ciclos de booms e estouros, disse estar "perplexo" e confuso porque esse roteiro não está servindo mais para ler o mundo. "Estou achando mais difícil prever o que vai acontecer agora do que quando a crise financeira começou", afirmou ele. "Na crise, eu tinha uma teoria [de booms e estouros] que parecia se encaixar perfeitamente com a realidade."

Segundo Soros, hoje há uma série de "desequilíbrios insustentáveis", a maior parte dos quais depende de ação política para ser resolvido, como a valorização da moeda chinesa, a disputa fiscal no Congresso americano, a batalha entre governos e banqueiros na definição da nova regulação financeira e a divisão econômica na Europa, em que alguns países se recuperam e outros ficam para trás.

"Temos muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, em vez de apenas um ciclo de boom e estouro", afirmou Soros. "Tudo ficou mais político."