Título: Evento debaterá efeitos do clima sobre a saúde pública
Autor: Reddy, Simon
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2011, Especial, p. A14
De São Paulo
Uma das diferenças da edição paulista do C40 com a de Londres (2005), Nova York (2007) e Seul (2009) é que aqui, pela primeira vez, a cúpula de prefeitos irá discutir os efeitos da mudança climática na saúde pública.
A iniciativa de incluir o tema na agenda partiu do Brasil e foi aprovada pelo grupo. "Saúde nunca aparece neste debate", registra Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A falha não é só dos outros: "Ambiente não está ainda no DNA da Saúde", reconhece o médico. "Mas como é que se vai discutir o aquecimento global em cidades e tirar o homem da foto?"
Para construir a conexão e participar dos debates do C40, a Faculdade de Medicina da USP realizou no fim de semana o workshop "Clima e Saúde nas Megacidades" com apoio da Prefeitura. As discussões reuniram um grupo de 80 arquitetos, engenheiros, planejadores, médicos, cientistas sociais, advogados. A intenção era alinhavar problemas, sugerir soluções e produzir uma "Carta de Recomendações em Saúde" que será apresentada durante as reuniões do C40.
O debate foi dividido em seis temas - água, ar, solo, clima, mobilidade e resíduos sólidos. Os especialistas levantavam questões que precisam ser estudadas. O que ocorre na saúde da população com a oscilação da umidade relativa do ar? O que explica as diferenças no número de casos de doenças respiratórias e cardiovasculares em áreas da cidade com mais ou menos verde? Como reduzir o desconforto de moradores de áreas conhecidas como "ilhas de calor", onde o asfalto e concreto fazem com que a temperatura seja até 3°C mais alta do que em outras regiões da metrópole?
Foi mencionada ainda a necessidade de se estudar doenças ligadas à disponibilidade de água - na escassez e no excesso. Os pesquisadores apontaram a falta de dados para avaliar as diversas situações e a necessidade de definir e organizar a coleta de informações.
Mencionaram-se ações mais contundentes - educar a população para que reduza o consumo exagerado de carne (e diminuir assim tanto a pressão sobre a floresta como doenças cardiovasculares). Ou sugerir que restaurantes e bares sirvam água gratuitamente - o que pode reduzir a emissão de gases-estufa na produção e transporte de garrafas de plástico e combater a obesidade provocada pelo consumo excessivo de refrigerantes. Mas nada foi fechado ainda.
A estratégia para relacionar saúde e ambiente e incluir a conexão na agenda política, das empresas e dos cidadãos, é analisar os benefícios imediatos de ações ambientalmente mais saudáveis. Assim, também, minimizam-se custos e ganha-se em saúde, cita Saldiva. Lembra que com o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), não só as emissões de poluentes na região metropolitana de São Paulo caíram: a redução no número de mortes foi de 15 mil, em dez anos. Os cofres públicos também ganharam com menos gastos na Saúde: economizaram US$ 1,5 milhão. (DC)