Título: PSD ultrapassa bancadas do PDT, PTB e PCdoB
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2011, Valor, p. A11
De Brasília O Partido Social Democrático (PSD) deu ontem mais um passo rumo ao governismo ao colher a adesão de 31 deputados federais majoritariamente simpáticos ao governo da presidente Dilma Rousseff, desidratar a oposição e ocupar a condição de oitava maior bancada da Casa, ultrapassando o PDT e ficando acima de tradicionais partidos com o PCdoB e PTB.
O partido iniciará sua legislatura com 28 deputados. Quatro eleitos em 2010 estão licenciados do cargo, mas um dos suplentes assumiu a vaga e também trocou de partido. Há a expectativa de que esse número aumente hoje, embora já tenha sido suficiente para desbancar o DEM da quarta para sexta posição no ranking de legendas com o maior número de cadeiras na Câmara. O motivo é que a maior parte dos que entraram no PSD vêm do partido: 11 deputados federais. O PP é o segundo maior prejudicado, com a perda de cinco deputados, mas mantém-se na quinta colocação.
Pelas características dos deputados do PSD, verifica-se grande presença de parlamentares sem grande expressão na Casa, oriundos principalmente de São Paulo (7) e da Bahia (6), com experiência no troca-troca partidário (pelo menos 16 já estiveram em mais de uma sigla) e com forte viés governista.
Dos 31 que assinaram a lista, 27 estiveram presentes à principal sessão da Casa nesta legislatura: a que fixou o salário mínimo em R$ 545. Desses, 14 votaram a favor do governo, 11 contra e um se absteve. A maioria também fez campanha para Dilma em 2010, apesar de muitos também terem apoiado o candidato do PSDB, José Serra.
A maior parte desta ala oposicionista do PSD, contudo, são de deputados que integravam os partidos de oposição ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: DEM e PPS. Eles compõem pouco menos da metade da legenda: 14 deputados.
Postura adotada também pelo mentor da nova sigla, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que manteve a ambiguidade, ao evitar classificar a legenda como governista ou de oposição. Sinalizou, todavia, que será da base sem comprometimento com as eleições de 2014.
"Os que estiveram e não estiveram no palanque de Dilma terão total liberdade aqui. Não haverá camisa de força ou patrulhamento, para que cheguemos em 2014 e construamos um projeto nacional", disse. Disse também torcer para que o governo Dilma dê certo. "Estamos à disposição para ajudar a presidente Dilma e torcemos para que seu governo dê certo. Isso não significa atrelamento ou que nos sintamos na sua base de apoio. Campanha é campanha, governo é governo. Isso precisa ficar claro". Afirmou também que "todos querem nos cobrar posições, mas elas serão deixadas bem claras no programa, com linhas claras de defesa e ação". "Sem marcas de ser contra ou a favor do governo", finalizou.
Cinco vice-governadores (São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Paraíba) assinaram a lista, assim como dois senadores: Kátia Abreu (DEM-TO) e Sérgio Petecão (PMN-AC). Kátia Abreu, cotada para ser presidente da legenda, apoiou Serra em 2010, mas também fez um discurso de apoio ao governo.
"Oposição não significa empresa de demolição. Votei a favor dos R$ 545 e não em um salário mínimo ilusório que ajude a deteriorar a inflação", disse. Ela afirmou que não aceitará que a esquerda monopolize o discurso de tom social e disse que as pessoas precisam de proteção no país.
"Não viemos apenas para estabelecer duelo ideológico entre direita e esquerda, mas para mostrar à esquerda que não aceitaremos a tentativa de monopólio do discurso social. A preocupação social será uma de nossas principais metas. O capital não precisa de proteção, quem precisa são as pessoas", afirmou. em seguida, declarou que "o livre mercado e as empresas são os promotores do bem estar social". "Se combate a pobreza gerando riqueza", finalizou.
A expectativa é de que o partido já esteja em funcionamento até julho. Até lá, será necessário cumprir alguns trâmites jurídicos, como a publicação do estatuto no "Diário Oficial da União", o registro em cartório civil, a entrega das assinaturas na Justiça Eleitoral, nos Tribunais Regionais Eleitorais e no Tribunal Superior Eleitoral. Nesse período, os deputados continuam em seus partidos de origem, mas articulando os postos que pretendem ocupar na Casa. Presente ao evento, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT), afirmou que ajudará o partido a se consolidar e a ter seu espaço.