Título: Empresa de Taiwan apresenta projeto de US$ 12 bi
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2011, Brasil, p. A3

De Pequim

Investimentos de empresas de alta tecnologia no Brasil marcaram a primeira etapa da visita da presidente Dilma Rousseff à China e ela aproveitou para pedir um "salto" na relação entre os dois países e esforços concretos de produção binacional de inovação científica e tecnológica.

Dilma pediu, na abertura do seminário "Diálogo de Alto Nível Brasil-China", parcerias de empresas de alta tecnologia dos dois países, "não só com transferência de tecnologia, mas com mecanismos conjuntos de pesquisa tecnológica que permitam desenvolver produtos legitimamente binacionais".

O anúncio mais surpreendente feito a Dilma foi o do presidente mundial da taiwanesa Foxconn, Terry Gou, que informou que começará em novembro a montar, com componentes importados, o iPad, tablet da Apple, em suas fábricas no Brasil, e apresentou projeto de investimento de US$ 12 bilhões em cinco a seis anos, para fabricação no país de telas de cristal líquidos do tipo TFT (Thin Film Transistor, transistor de filme fino), usadas no iPad, telefones de última geração, televisores e telas de computador.

Se concretizado, o investimento, provavelmente na cidade paulista de Jundiaí, implicará a construção de uma verdadeira cidade digital. O governo brasileiro exige a participação de um sócio nacional, que teria de aportar parte dos US$ 12 bilhões, e estuda os pedidos da Foxconn, que incluem isenções de tributos federais, como Cofins e IPI, e impostos estaduais. Essa seria a única fábrica do gênero da Foxconn, uma das maiores do setor, no hemisfério ocidental, lembrou o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.

Durante a visita também foram anunciados os planos da Huawei (US$ 350 milhões nos próximos dez anos) e da ZTE (US$ 200 milhões), este em um centro de pesquisa e desenvolvimento, de distribuição de equipamentos, treinamento e call center na cidade paulista de Hortolândia.

A ênfase em parcerias de ciência e tecnologia foi uma decisão de Dilma, para marcar sua visita à China. "China e Brasil, os maiores países em desenvolvimento, devem fazer com que nossa cooperação possa liderar outros países para favorecer a inovação", disse o ministro da Ciência e Tecnologia da República Popular da China, Wang Gang, ao saudar a presidente na abertura do "Diálogo Bilateral" do setor. "Estamos em estágios parecidos de desenvolvimento e, nesse aspecto, a parceria pode permitir um salto", afirmou Dilma, ao falar a jornalistas no fim do dia.

O relato dos chineses para a presidente, durante o diálogo em ciência, tecnologia e inovação, mostrou, porém, a distância que a China vem tomando em relação a outros países em desenvolvimento. O país tem aumentado em 20% anuais os recursos para seu setor de ciência e tecnologia, passou de 13º posto, em 2005, para oitavo, em 2010, em quantidade de citações de monografias, chegou no ano passado a 813 mil patentes, 135 mil baseadas em invenção, aumento de 260% em relação a 2005. Está em área de ponta nas pesquisas aeroespaciais, prospecção da lua, computação de alto desenvolvimento e exploração tripulada de águas profundas.

Especialistas brasileiros, como o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, ressaltaram a concordância do presidente Hu Jintao com a inclusão, no comunicado conjunto, do compromisso de continuar o programa espacial, que tem programados os lançamentos dos satélites CBERS 3 e 4. O Brasil quer lançar dois outros satélites de monitoramento remoto, mas tem de competir com interesses da burocracia chinesa, como o lançamento do seu sistema de GPS, investimento superior ao do programa espacial brasileiro.