Título: PP reconduz Dornelles à presidência
Autor: Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2011, Política, p. A6

De Brasília

O PP reconduziu o senador Francisco Dornelles (RJ) para a presidência do partido, em convenção realizada ontem na qual a sigla reafirmou apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff e não tratou de eventuais alianças eleitorais para 2012 e 2014. A recondução de Dornelles esteve ameaçada no período que antecedeu a convenção pelo grupo liderado pelo ministro das Cidades, Mário Negromonte, que desde já quer alinhar o PP ao PT e às candidaturas governistas nas próximas eleições.

O PP é descendente direto da antiga Arena, o partido criado pelo regime militar para apoiar o s governos dos generais. Da Arena nasceu o PDS e de uma costela do PDS o PFL, dissidência que permitiu ao PMDB eleger Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1984, e que hoje é representada pelo DEM. O PFL cresceu muito nos governos do PSDB, chegando a eleger 105 deputados nas eleições de 2002, vencidas pelo PT. Desde então, apenas perdeu deputados, seguindo a trajetória na qual já havia entrado o PP.

Nas eleições de 2010 os dois partidos tiveram desempenho parecido nas eleições para a Câmara: o PP elegeu 44 deputados e o DEM, 43. Mas o PP deu um salto em sua bancada de senadores (de um para cinco), elegeu quatro vice-governadores e 558 prefeitos, o terceiro no ranking municipal dos partidos. E enquanto o DEM se encontra sob forte ataque do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, apenas dois deputados do PP, um de Roraima e outro de Mato Grosso, negociam filiação ao PSD, a sigla que já teve Juscelino Kubitschek entre seus quadros e que Kassab pretende devolver ao cenário político.

A principal explicação para a resistência do PP, no atual momento de instabilidade provocada pela movimentação de Kassab, é que o PP já é governo - tem um ministério e outros cargos no governo petista. O ministro Negromonte foi um dos mais aplaudidos da convenção - seu grupo dispunha de força para ameaçar a recondução de Dornelles. Só há dois fins de semana os líderes da legenda concordaram que eleger o senador Benedito de Lira (AL), o nome que o ministro das Cidades tentava viabilizar, seria um retrocesso no projeto de mudanças tocado por Dornelles e que deram uma nova imagem ao partido.

Antes associado ao deputado Paulo Maluf (SP), que acompanhou toda a convenção, o PP, a partir de 2005, teve sua imagem indissociavelmente ligada ao folclórico ex-deputado Severino Cavalcanti (PE) e ao grupo que controla a liderança da Câmara dos Deputados, levado de roldão pelo escândalo do mensalão. Os caciques do PP decidiram fechar o acordo para aclamar Dornelles depois da avaliação segundo a qual o senador pelo Rio é uma referência nacional, tem história política e teve boa conduta na direção do partido, cargo que ocupa desde 2008.

Hábil, Dornelles manteve o PP de fora da aliança que elegeu a presidente Dilma Rousseff, na eleição de 2010, ao dar liberdade de decisão para as seções regionais. Havia casos em que era absolutamente impossível o PP fechar com o PT, como o do Rio Grande do Sul, onde os dois partidos estão em extremos opostos em relação ao eleitorado. Essa parece ser a tendência do PP para as próximas eleições. Assim como apoia o governo Dilma em nível nacional, com índice de fidelidade nas votações, o PP está aliado ao PSDB em Minas Gerais, onde tem o vice-governador, e no Paraná, onde o ex-deputado Ricardo Barros, um dos principais dirigentes partidários, é secretário do tucano Beto Richa.

Além do respeito às peculiaridades regionais, uma característica que é forte no PMDB, atualmente o maior partido com representação no Congresso, o PP mantém em sua estrutura de comando as bancadas da Câmara e do Senado, o que também ajuda a segurar congressistas eleitos pelo partido. O mandato de Dornelles é de dois anos. É certo que ele estará no comando do partido nas eleições de 2012; na sucessão de Dilma Rousseff, em 2014, que pode ter seu primo Aécio Neves (PSDB-MG) como candidato, é imprevisível hoje qual será a posição do PP. De certo, atualmente, é que o PP é governo.