Título: G20 perto de acordo sobre desequilíbrios globais
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2011, Internacional, p. A13
De Genebra O G-20, que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes, poderá anunciar esta semana, em Washington, um acordo sobre diretrizes para identificar os países que causam os maiores desequilíbrios econômicos globais, exercício que aumentará a pressão para a China valorizar sua moeda.
Depois que o governo chinês se mostrou "mais cooperativo" na semana passada, o primeiro esboço da declaração das autoridades econômicas para a reunião diz que o G20 concorda com as diretrizes que completam a primeira fase do trabalho "para corrigir persistentes grandes desequilíbrios".
Com isso, os ministro devem anunciar o lançamento da "segunda fase desse processo com uma avaliação profunda da natureza desses desequilíbrios e as causas que entravam o ajuste", diz o texto.
"Baseado nessa análise e em nosso processo de avaliação mútua, vamos também verificar para nosso próximo encontro as medidas corretivas e preventivas que formarão o plano de ação de 2011 para assegurar crescimento forte, sustentável e equilibrado, a ser discutido no encontro dos líderes em Cannes [França, em novembro]."
Com a metodologia a ser definida em Washington, os países do G20, que detêm quase 80% do PIB mundial, serão avaliados levando em conta sua dívida pública e déficit fiscal, poupança e dívida privadas, desequilíbrio externo composto de balança comercial e fluxo líquido de renda de investimentos e transferências (sobretudo remessas de trabalhadores). Vão receber ranking de uma, duas ou três estrelas (as duas ultimas categorias significam que não superam os limites que causam desequilíbrios).
O exame será mais estrito para os países cujo PIB representa 5% ou mais do PIB total do G20. Todos os países assim identificados como tendo desequilíbrios econômicos importantes, que afetam outros países, serão submetidos a uma segunda fase de avaliação. Isso envolverá de quatro a oito paises, incluindo EUA, China, Japão e Alemanha, o primeiro com enorme déficit em suas contas correntes, enquanto os outros três acumulam superávits gigantescos.
Na reunião de Paris, em fevereiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que a existência dos indicadores não tinha consequência imediata, mas servia para "confirmar que existe guerra cambial, países com câmbio mais desvalorizado que outros".
A reunião de Washington ocorre em meio a alertas de que os desequilíbrios voltaram, com temas que preocupavam antes da crise: fluxos de capital enormes e voláteis, pressões sobre o câmbio, rápida expansão das reservas. "A China exporta e economiza; a Europa consome; e os EUA se endividam e consomem. Esse modelo não é equilibrado", diz Cristine Lagarde, ministra francesa de Finanças.
Em Paris, quando o G20 aprovou indicadores e deixou a metodologia para Washington, a China conseguiu evitar referência a "contas correntes". E a taxa de câmbio só passou a ser um critério devido a uma sutileza de linguagem burocrática típica dessas negociações.
Em todo caso, o G20 já decidiu que não vai publicar o nome dos países que serão submetidos a exame mais aprofundado, ou seja, aqueles com déficits ou superávits excessivos nas contas correntes e responsáveis em boa parte pelos desequilíbrios, para não causar mais reações do lado dos chineses, principalmente.