Título: Sob pressão, Obama expõe hoje plano fiscal
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2011, Internacional, p. A13
De Washington O presidente Barack Obama anuncia hoje um plano para reduzir o déficit público americano, num esforço para retomar o controle da agenda fiscal, que foi capturada pela oposição republicana desde as eleições legislativas do ano passado. A expectativa é que ele aceite algumas propostas apresentadas no ano passado por uma comissão fiscal interpartidária, como aumento de impostos para os mais ricos e corte em benefícios pagos pelo governo.
O governo Obama enfrenta uma crescente pressão para cortar o déficit público, que este ano representará 10,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) criticou o atraso dos Estados Unidos em anunciar um plano fiscal com medidas críveis.
Há alguns dias, Obama fechou um acordo de última hora com os republicanos para aprovar o Orçamento e, assim, evitar a paralisia de serviços do governo. Agora está ameaçado de rejeição no Congresso seu pedido para elevar o limite de endividamento público, o que no limite levaria a uma moratória.
Muitos veem o discurso de Obama como uma resposta à radical proposta de ajuste fiscal apresentada na semana passada pelo presidente da comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, Paul Ryan. Para ganhar credibilidade fiscal, porém, Obama terá que ir além do programa que ele mesmo anunciou há dois meses. "É um tema importante que vai além de um discurso", disse ontem o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Durante a crise financeira mundial, o governo americano lançou medidas como socorro a bancos e empresas, corte de impostos e aumento dos gastos para evitar uma depressão econômica. Com isso, o déficit público americano saltou de 2,7% do PIB em 2007 para um pico de 12,7% do PIB em 2010.
Economistas conservadores vem pregando um ajuste fiscal mais amplo para evitar que a crescente dívida pública leve a juros mais altos no futuro. A dívida pública americana, que em 2007 representada de 62,2% do PIB, deverá chegar a 99,5% do PIB neste ano, segundo projeções divulgadas ontem pelo FMI.
Os mais radicais dizem que a falta de um plano fiscal agressivo é uma das razões para o baixo crescimento econômico. Segundo essa visão, empresas e indivíduos estariam adiando investimentos e consumo para se preparar para os tempos mais difíceis.
Já economistas à esquerda criticam o ajuste fiscal muito rápido, afirmando que a economia ainda precisa de estímulos para evitar um novo mergulho recessivo.
O discurso do governo Obama, até aqui, tem sido não remover os estímulos fiscais no curto prazo, para evitar uma queda na já fraca atividade econômica. Mas ele também tem defendido um ajuste fiscal no médio e longo prazos para evitar a alta dos juros.
Há alguns meses, ao anunciar o Orçamento, o governo disse que pretende promover um ajuste fiscal de US$ 1,1 trilhão nos próximos dez anos. O plano do republicano Ryan previa cortes de US$ 6 trilhões, incluindo forte redução em gastos sociais.
A expectativa é que Obama anuncie hoje uma estratégia um pouco mais ambiciosa, adotando ao menos os princípios da agenda proposta em fins de 2010 por uma comissão bipartidária, convocada pelo por ele mesmo, que previa ajuste de US$ 4 trilhões em cortes de gastos e aumento de impostos.
Republicanos dizem que, se não houver concessões fiscais mais palpáveis pelo governo Obama, eles vão bloquear no Congresso a aprovação de um novo teto para o endividamento, que hoje está em US$ 14,3 trilhões. As estimativas do Tesouro indicam que esse teto será atingido em meados de maio e, se não houver autorização do Congresso, o governo não poderá rolar os títulos que vencerem.
Ontem, o FMI fez duras críticas aos Estados Unidos em seu monitor fiscal, um documento que faz a revisão das políticas de países emergentes e desenvolvidos.
"Os Estados Unidos precisam adotar medidas críveis para reduzir sua dívida", afirma o documento. Segundo o organismo, os Estados Unidos são o único país, além do Japão, que ainda faz uso da política fiscal para estimular a demanda agregada apesar de o grau de ociosidade da economia estar em queda.
Em entrevista ontem em Washington, o diretor de assuntos fiscais do FMI, Carlo Cottarelli, disse que os Estados Unidos ainda têm muita credibilidade na área fiscal e se beneficiam de sua boa perspectiva de crescimento, quando comparado com a Europa. Por todos esses motivos, o risco de uma crise fiscal nos Estados Unidos é muito pequeno, diz o FMI.
"Mas, se esse risco se materializar, poderá ter importante consequências não só para o país, como para o resto do mundo", afirmou Cottarelli. "Por isso é importante que os Estados Unidos façam a consolidação fiscal antes cedo do que tarde."