Título: Com carne suína, Embraer e BB, China faz aceno ao Brasil
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2011, Brasil, p. A4

De Pequim O governo chinês decidiu anunciar que atenderá às principais demandas na pauta de reivindicações da presidente Dilma Rousseff, que chegou ontem à China para uma visita de Estado e dois fóruns internacionais. Alçada como prioridade no esforço para aumentar o valor agregado das vendas brasileiras à China, a Embraer recebeu sinal verde das autoridades chinesas para começar a produzir no país os jatos executivos Legacy 600, além da confirmação da compra e autorização de importação de 25 aeronaves comerciais EMB 190, além das dez adquiridas em janeiro - como adiantou ontem o Valor. Os chineses também indicaram que permitirão ao Banco do Brasil transformar em agência bancária seu escritório de representação em Pequim, como informou ontem o presidente do banco, Aldemir Bendini, em seminário promovido na cidade pela Confederação Nacional da Indústria. O Banco do Brasil espera investir US$ 30 milhões na nova agência, para apoiar negócios de brasileiros na China e faltam apenas trâmites burocráticos, informou Bendini. "Esperamos em breve estar em pleno funcionamento trabalhando com uma agência aqui", disse.

Além de credenciar três frigoríficos a vender carne suína diretamente ao mercado chinês, pondo fim a um longo período de restrição que obrigava os exportadores a vender por intermediários, especialmente de Hong Kong, a China sinalizou uma breve liberação de importações de frutas cítricas e de fumo da Bahia e Alagoas (únicos Estados produtores brasileiros ainda não autorizados a vender aos chineses).

"É positivo, um bom começo", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, Pedro de Camargo Neto. "Tínhamos apresentado 27 frigoríficos e já sabíamos que não iriam aprovar todos, mas, aos poucos, iremos conseguir ampliar a lista", comentou.

O Itamaraty chegara a ser informado de que seriam liberados dez dos 13 frigoríficos inspecionados pelos chineses há cinco meses, o que surpreendeu Pedro Camargo. Na noite de segunda-feira, saiu a informação final: seriam três, um em Goiás, da BrazilFoods, outro em Porto Alegre e outro no Nordeste. Argumentando que a liberação para carne bovina e de frango também começou com poucos frigoríficos e ampliou-se com o tempo, Pedro Camargo disse estar "satisfeito" e esperar, em um ano chegar a 20 frigoríficos autorizados a vender à China.

O embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, disse acreditar que o governo chinês começa a perceber a necessidade de melhorar a qualidade das relações comerciais com o Brasil. "Temos superávit comercial com a China, mas é baseado em três commodities (soja, minério de ferro e celulose), assim não dá", queixou-se. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, o governo tem procurado dar à visita presidencial um enfoque voltado a inovação, investimentos chineses no Brasil e aumento do valor agregado nos produtos vendidos pelos brasileiros aos chineses.

No fim da manhã de ontem, pouco depois de chegar em Pequim, Dilma recebeu o presidente internacional da gigante fornecedora do setor de telefonia, Huawei, Ren Zhengfei. Além de dar a Dilma um quadro de seda com a figura de um panda, símbolo de amizade para os chineses, Zhengfei, acompanhado de outros executivos da empresa, anunciou a decisão de construir um centro de pesquisas na região de Campinas, financiar troca de estudantes em tecnologia entre instituições de ensino superior dos dois países e montar no Brasil aparelhos usados pela empresa, um investimento total de US$ 350 milhões.

Maior fornecedora para as concessionárias de telefonia no Brasil, onde o volume de vendas da empresa atingiu US$ 1,4 bilhão, a Huawei doará, nos próximos dez anos, US$ 5 milhões anuais para universidades de ponta no Brasil adquirirem equipamentos de computação de alto desempenho. "Esse tipo de doação vai ajudar o treinamento dos talentos do país a ajuda na aplicação dos equipamentos no mercado", disse o presidente da Huawei para a América Latina, Like Li Ke.

A série de anúncios que acompanham a visita de Dilma incluem três contratos da Petrobras com as estatais chinesas Sinopec e Sinochem, considerados pelo presidente da estatal brasileira, José Sérgio Gabrielli, "normais, de mercado, com pouco dinheiro envolvido". Um dos contratos prevê entrada da Sinopec na exploração de plataformas na bacia do Maranhão e Pará, outro permitirá à Petrobras usar a tecnologia da Sinochem para aproveitar óleo de poços já bastante explorados. O governador da Bahia, Jacques Wagner (PT), também assinou um protocolo de intenções com a chinesa Red Dragon, subsidiária da Companhia de Cereais de Chongqing. O investimento inicial será de cerca de US$ 200 milhões.