Título: Campos amplia base e muda equipe em PE
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2011, Política, p. A6

Do Recife A tranquilidade com que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), renovou seu mandato nas eleições do ano passado foi ligeiramente abalada nos primeiros meses da nova gestão. Uma profunda mudança realizada no secretariado e problemas envolvendo a Secretaria de Defesa Social geraram ruídos com os quais o governador já não estava acostumado a lidar, dada a hegemonia política que vem consolidando nos últimos anos.

Apesar da gestão bem avaliada no primeiro mandato, Campos substituiu ou realocou 80% dos antigos secretários, sob o argumento de que era preciso evitar acomodações. A versão oficial do governo é de que não houve motivação política na reestruturação, mas apenas uma necessidade de a equipe "não confundir o primeiro ano do segundo mandato com o quinto ano do primeiro mandato".

Ainda assim, as mudanças causaram chiadeira na base aliada, que após as eleições ficou maior e mais heterogênea. O principal insatisfeito é o PT, que não gostou de perder a Secretaria das Cidades, antes ocupada pelo senador Humberto Costa (PT) e considerada uma vitrine importante no Estado. A Pasta passou a ser ocupada por Danilo Cabral (PSB), que estava à frente da Secretaria de Educação. Eleito deputado federal com votação expressiva e homem de confiança do governador, Cabral tem seu nome cotado para disputar a Prefeitura do Recife, comandada há dez anos pelo PT.

Também gerou polêmica a nomeação do jornalista Sérgio Xavier (PV) para a Secretaria do Meio Ambiente, criada especialmente para ele. Candidato derrotado ao governo, Xavier teceu duras críticas à política ambiental de Campos durante a campanha, quando se apresentava como força de oposição. No entanto, ele acabou aceitando o convite e entrou no governo, o que gerou um racha no partido. Inconformado com a nomeação, o único deputado estadual eleito pelo PV, Daniel Coelho, se candidatou a líder da oposição na Assembleia Legislativa, mas acabou derrotado.

Apesar da disputa acirrada pela liderança da oposição, a Casa Legislativa segue extremamente favorável a Campos. O governador tem hoje o voto favorável de 43 dos 49 deputados, número que inclui a simpatia de quase todos os parlamentares do PSDB, partido que ainda integra, oficialmente, a oposição.

Na área administrativa, o governador teve problemas com a Secretaria de Defesa Social, uma das poucas em que não houve troca de comando. Responsável pelo programa Pacto Pela Vida, que vem mostrando resultados eficientes na redução de homicídios, a Pasta é considerada peça-chave da gestão, porém teve sua imagem arranhada nos últimos meses, colocando na berlinda o secretário Wilson Damásio, que é delegado da Polícia Federal.

Denúncias envolvendo abuso de poder policial, sucateamento do Corpo de Bombeiros e intimidação da imprensa geraram desconforto. Campos foi obrigado, por exemplo, a exonerar dois coronéis da Corregedoria da SDS que intimaram um repórter do "Jornal do Commercio" a revelar as fontes militares de uma matéria sobre as precárias condições de trabalho dos bombeiros do Estado.

Também gerou mal-estar uma denúncia recente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) sobre a situação caótica do Instituto Médico Legal do Recife. Após divulgar fotos de corpos amontoados no chão e sendo arrastados por funcionários, o órgão decretou a suspensão das atividades de necropsia até que fossem feitas melhorias nas condições de trabalho. As atividades no IML só foram retomadas na semana passada, após 15 dias de paralisação.

Fiel ao seu estilo, Campos não entrou na polêmica. Dentro do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano, os problemas na SDS são tratados como "pontuais". No campo político, o governo alega que os partidos da base continuam contemplados e lembra que o PT recebeu o comando da Secretaria de Transportes, que tem um orçamento respeitável.

Além do cumprimento de novas metas, que ainda estão sendo estipuladas, o segundo mandato terá a função de alavancar o nome de Campos para uma possível empreitada nacional em 2014. Antes disso, porém, ele terá que administrar os destoantes interesses da base aliada para as eleições municipais do ano que vem. No centro da questão está o prefeito do Recife, João da Costa (PT), cuja gestão mal avaliada coloca em xeque a viabilidade de sua candidatura à reeleição.

A situação é terreno fértil para o surgimento de muitos interessados na vaga. Dentro do PT, que espera ter o apoio de Campos para se manter à frente da prefeitura, o nome mais forte é o do ex-prefeito João Paulo Lima e Silva, que de aliado passou a inimigo declarado do atual prefeito. Também se fala em interesse do PTB, que recentemente entregou todos os cargos que ocupava na gestão municipal. O partido é comandado no Estado pelo senador Armando Monteiro Neto, o mais votado nas eleições de 2010.

Nem mesmo o PSB descarta entrar na disputa. Nos bastidores, membros do partido não escondem o desejo de consolidar a hegemonia em Pernambuco com o comando da prefeitura da capital. Campos, ao menos por enquanto, segura os ímpetos com mão de ferro.

Hoje são publicados cinco dos 11 balanços dos cem dias de administrações estaduais. A série será encerrada amanhã